Plataforma digital reúne manifestações artísticas de coletivos que atravessaram a pandemia

Laboratório Pacto reuniu curadoria de materiais artísticos produzidos em quatro anos de pesquisa

Tela inicial de apresentação da plataforma digital da pesquisa Deslocamentos Sensíveis
Tela inicial de apresentação da plataforma digital da pesquisa Deslocamentos Sensíveis [Imagem: Reprodução/Pacto]

O Laboratório de Estudos e Pesquisa Arte, Corpo e Terapia Ocupacional (Pacto), do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, organizou uma plataforma digital com uma curadoria de materiais produzidos em quatro anos da pesquisa Deslocamentos Sensíveis. O estudo acompanhou a criação e o fortalecimento de manifestações artísticas em coletivos ligados ao departamento por meio de encontros de 2019 até 2022.

Financiado pelo CNPq e apoiado pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, o projeto trabalhou com a metodologia da cartografia, que pressupõe que todas as pessoas envolvidas na pesquisa são pesquisadores. Além de alunas bolsistas e orientadoras, o projeto também contou com a participação de cinco coletivos que já tinham uma parceria histórica com o Pacto, cada um com seu domínio artístico: Coral Cênico Cidadãos Cantantes, Coletivo Preguiça, Cia Teatral Ueinzz, Oficina de Dança e Expressão Corporal (ODEC) e o Centro de Convivência É de Lei.

“São projetos que estão no cenário, principalmente, da reforma psiquiátrica e da luta antimanicomial, que se inscrevem nessa rede de projetos, na interface da arte e da saúde.”, explicou Erika Alvarez Inforsato, uma das orientadoras da pesquisa. “Todos tem uma proposta de trabalho artística, cada um com uma linguagem predominante. São grupos que se reúnem semanalmente e são lugares de referência para a vida dessas pessoas.”.

O projeto, que tinha como um dos objetivos fortalecer a rede entre os coletivos e o Pacto, seguiu três linhas de pesquisa: Existências, Aparições e Explorações. Elizabeth Maria Freire de Araújo Lima, coordenadora da pesquisa, explicou que a primeira linha procurou abordar a temporalidade e a sustentação de cada participante e do próprio coletivo; a segunda, a aparência e apresentação no espaço público; e, a terceira, as dimensões de pesquisas e formas de criação que existem dentro dos projetos.

A pesquisa passou por seu primeiro ano com encontros presenciais e, depois, teve que se adaptar com a chegada da pandemia. “Isso alterou bastante os nossos objetivos, mas foi bem interessante, porque fortaleceu a dimensão da discussão das Existências”, explicou Elizabeth. 

Com oficinas de capacitação, convidados e seminários que enriqueceram os encontros remotos, a pesquisa se adaptou aos poucos ao formato online com uma base de sustentação dos eventos presenciais que foram realizados previamente. “Eram momentos quando se tinham notícias, quando alguém tinha uma ideia ou vontade de cantar, de contar como estava se sentindo. A gente brincava que era outro tipo de contágio. Estávamos operando em outro registro, que foi mantendo essa rede viva de alguma forma. Tiveram pessoas que morreram e situações muito difíceis que a gente atravessou juntos”, relembrou Renata Monteiro Buelau, também orientadora da pesquisa. 

A pesquisa, que passou a ter uma dimensão de cuidado com o decorrer da pandemia, cresceu com uma estrutura de grupos em aplicativo de celular e ganhou até uma página em rede social. A pesquisadora também explicou que as mudanças, apesar de serem pequenas, tiveram que ser pensadas com muito cuidado, já que o universo nas redes pode flutuar entre excessos e desconexão para os pesquisadores.

O relatório da pesquisa foi enviado ao CNPq no fim de 2022, mas o estudo gerou muitos outros resultados entre as produções, apresentações e vivências dos encontros e eventos, cujos materiais passaram por uma curadoria e foram reunidos na plataforma digital, em uma espécie de mostra online. “Ela não é um relatório da pesquisa, não é um resumo ou uma ilustração. Ela fez parte do próprio processo de pesquisar essa questão que nos atravessava. Não eram produtos, eram produções”, explicou Renata sobre a plataforma, que já estava prevista desde o início da pesquisa.

“Cada um desses retângulos abre um material, um vídeo, um áudio, uma frase. A pandemia também acentuou a questão de como a gente produz uma imagem no meio desses excessos, no meio de uma neutralização das imagens”, relatou a pesquisadora. “Uma imagem mais de resistência, que não se encaixa imediatamente no nosso mapa sensível. Essa plataforma, que é uma cartografia, traz um pouco desse processo”, acrescentou Renata sobre o funcionamento do site, que contou com a ajuda de bolsistas para ser formulado. A plataforma digital deve ficar aberta por tempo indefinido, e pode ser acessada pelo link: http://pacto.art.br/

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