Pesquisadora da Farmácia da USP vai desenvolver estudos sobre câncer com a OMS

Professora Silvya Stuchi foi escolhida para atuar em comissão de trabalho da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (Iarc)

Sede do Iarc é localizada em Lyon, na França [Reprodução/Wikimedia Commons]

Desde novembro de 2023, a docente do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, Silvya Stuchi, é a única brasileira a compor o grupo de especialistas selecionados pela Iarc, órgão vinculado à Organização Mundial da Saúde (OMS). Selecionada a partir de um grupo de 30 pesquisadores de universidades renomadas, a pesquisadora afirma que sua nomeação representa o reconhecimento de suas experiências acumuladas e contribuições dadas para a pesquisa na área de câncer.

Silvya é a terceira professora da FCF a integrar comissão do Iarc [Reprodução/X/@fcfusp]
O Iarc é uma agência reconhecida em escala global pela participação ativa na criação e regulamentação de políticas públicas de prevenção ao câncer. Suas atividades desempenham papel central na proteção à saúde pública e promoção da conscientização sobre os riscos do câncer.

Os pesquisadores selecionados foram encarregados com a função de identificar riscos cancerígenos aos humanos, a partir da leitura e análise da literatura científica sobre dois compostos químicos persistentes, o ácido perfluorooctanoico (PFOA) e o ácido perfluoro-octanossulfônico (PFOA) – conhecidos como “químicos eternos”, devido à sua durabilidade e prevalência no meio ambiente, onde atuam como contaminantes.

Os compostos químicos estão presentes em uma variedade de produtos e ambientes cotidianos para as pessoas, como em: embalagens de alimentos, para evitar que óleo e água penetrem no material; produtos de limpeza, devido às propriedades de resistência à sujeira e graxa; meio ambiente, persistentes em águas superficiais, subterrâneas e solos; e produtos domésticos, a exemplo de utensílios de cozinha com revestimentos antiaderentes.

O estudo destes elementos tem o objetivo de entender os possíveis impactos na saúde humana e no meio ambiente, de acordo com Silvya. Na avaliação da especialista, a ampla distribuição e os potenciais efeitos da composição química apontam a necessidade de medidas normativas: “A análise e regulamentação desses compostos são cruciais”.   

Com base nas propriedades físico-químicas, usos, efeitos sobre a saúde e persistência, o Iarc classifica o perigo de substâncias conforme sua capacidade de induzir câncer em humanos. Os dados são obtidos por meio da força das evidências de indução de câncer em humanos e em animais experimentais, e no conhecimento da ação das substâncias via mecanismos envolvidos no desenvolvimento de cânceres.

Com o propósito de garantir a saúde pública global, a comissão da Iarc trabalha em conjunto com os órgãos reguladores e governamentais, segundo a professora: “Através deste trabalho colaborativo e interdisciplinar, contribuímos com informações valiosas que poderiam orientar políticas e ações globais na gestão desses compostos.”

FCF no Iarc

Além de Silvya, a Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP (FCF) teve a participação de outros professores em iniciativas do Iarc. Em junho de 2017, a professora Ana Paula Loureiro atuou, por dez dias, como membro de um grupo de trabalho que estudou sete substâncias e gerou um documento sobre os mecanismos de carcinogênese – processo de formação de neoplasias, isto é, cânceres – na identificação de perigo de câncer.

De acordo com Ana Paula, houve um aprendizado para a apresentação direta dos dados coletados nos estudos: “É muito importante nas monografias da Iarc que os dados sejam apresentados de forma clara e objetiva, uma vez que são considerados por agências regulatórias no gerenciamento do risco”, explica.

O professor Thomas Ong, do Departamento de Alimentos e Nutrição Experimental, também foi convidado para trabalhar com a agência, em 2021, devido à sua produção acadêmica na relação entre nutrição e câncer. O pesquisador foi responsável por redigir o relatório sobre o potencial carcinogênico do cobalto.

Ong informa que a classificação do perigo de câncer em uma substância demanda a integração de avaliações epidemiológicas, clínicas, toxicológicas, entre outras. “Para tanto, é necessário que exista todo um processo científico embasado e robusto. Não é tarefa simples”, afirma ele, que conclui. “O IARC, sendo o braço da OMS com foco no câncer, é justamente a instituição de referência que apresenta a competência e know-how para liderar o processo de elaboração de monografias de carcinógeno”.

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