
Novo estudo publicado em maio no repositório da Universidade de Columbia analisa e mapeia as zonas de calor extremo na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e as políticas públicas criadas após pesquisas anteriores. De autoria do geógrafo Hugo Rogério de Barros, colaborador no Centro USP Cidades Globais do Instituto de Estudos Avançados (IEA), o estudo de caso — feito com apoio do Urban Climate Change Research Network (UCCRN), da Universidade de Columbia — utiliza o satélite Landsat 5 da Nasa e o modelo Sebal (Surface Energy Balance Algorithm for Land) para medir o risco que as diversas zonas de calor extremo impõem sobre a população.
A pesquisa Heat Extremes in Metropolitan Area of São Paulo: A Challenge (em tradução livre para o português, Extremos de calor na Região Metropolitana de São Paulo: Um Desafio) expõe o desafio de combate às mudanças climáticas no contexto da RMSP ao compilar diversos dados de estudos passados, feitos pelo próprio Hugo, com relação a zonas de calor extremo na cidade de São Paulo e o quão arriscado esses espaços são para a população geral. O estudo também analisa o impacto dessas pesquisas nas políticas públicas para o combate à crise climática na cidade de São Paulo.
Região metropolitana mais quente que o normal
De acordo com a pesquisa, estudos realizados durante o século 20 comprovaram que, enquanto o País teve um aumento geral de 0,75ºC na temperatura média, a RMSP teve um aumento de 0,7ºC além da temperatura do Brasil. Ainda segundo as análises, essa diferença entre os valores se relaciona com a urbanização da cidade e gera problemas específicos para a RMSP. O aumento da temperatura nas áreas urbanas provoca maior intensidade nas chuvas convectivas — popularmente conhecidas como chuvas de verão — provenientes da brisa marítima do sul e sudeste. “Quando a brisa adentra o continente, ela se encontra com a atmosfera aquecida da RMSP e proporciona o aumento da intensidade das chuvas fortes e dos eventos extremos de precipitação, os quais são danosos à saúde ambiental da megacidade”, diz o pesquisador.

A maior intensidade das chuvas de verão não é a única consequência da elevação climática na RMSP. O intervalo de conforto térmico da região é entre 14ºC e 26ºC. A medição que ultrapassa 32ºC é considerada um exemplo de calor extremo e gera risco de morte para doenças associadas ao estresse térmico — situação em que o corpo é exposto a temperaturas extremas e não consegue se regular em uma temperatura ideal.
Expansão da ilha de calor
Uma das características da pesquisa foi a análise da interação entre as ilhas de calor formadas na RMSP e o bloqueio atmosférico causado pelo Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul (ASAS). As ilhas de calor, impulsionadas pelo bloqueio atmosférico causado pelo ASAS, aumentam seu tamanho na direção centro-periferia. Segundo o estudo, quanto mais perto o centro do ASAS está da superfície continental — a área coberta por terras da RMSP — maior será o bloqueio e, consequentemente, maior será a área da ilha de calor sobre a cidade.
A partir dos dados dessa análise, a pesquisa constatou que essa dinâmica pode aumentar a intensidade da ilha de calor em até 5ºC e expandir sua área em até 697%. Com essas informações, foram registradas três dinâmicas atmosféricas diferentes para a expansão da ilha de calor com alta intensidade — de acordo com a pesquisa, quando a temperatura está 8ºC mais forte — sendo elas calor moderado, calor forte e calor extremo.

Essa expansão da ilha de calor gera um risco ambiental que também foi calculado e mensurado na pesquisa. O cálculo se deu ao classificar os valores verticais (variando de um a dois metros) do fluxo sensível de calor (variável H). Esses dados foram estimados com ajuda do sensor Thematic Mapper (TM) do satélite da Nasa Landsat 5 e do algoritmo Sebal (Surface Energy Balance Algorithm for Land). Do encontro de todos esses dados, quatro categorias de risco para as áreas da Região Metropolitana de São Paulo foram vetorizadas, sendo elas: muito alto (H > 395W.m-2), alto (H entre 300 e 394W.m-2), moderado (H entre 214 e 299W.m-2) e baixo (H entre 213 e > 94W.m-2). A medida utilizada para a variável H se refere à Watts por metro quadrado.
Reflexo nas políticas públicas
O estudo explica como, após a ampla divulgação desses dados, a Prefeitura de São Paulo começou diversas mobilizações para o combate às consequências graves que esses fatores climáticos geram na cidade. Dentre eles, está a criação do Plano de Ação Climática de São Paulo (PlanClima SP) em 2020, com o objetivo de fazer valer as diretrizes acordadas internacionalmente no Acordo de Paris, em 2015.
Segundo as análises do pesquisador, tópicos como ilhas de calor, ondas de calor e calor extremo foram inseridos na sociedade como um problema de saúde pública. Segundo a pesquisa, apesar de o município de São Paulo contar com a Seclima (Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas) e o PlanClima SP, as outras cidades da RMSP não contam com iniciativas similares. “Está claro que os 38 municípios adicionais também requerem a mesma atenção política e acadêmica com relação a estudos sobre extremos de calor e estratégias de adaptação”, diz a pesquisa.
Faça um comentário