Bambu potencializa filtros solares químicos

Espécies de bambu aumentam o fator de proteção solar e o fazem durar por mais tempo

Bambu pode ser utilizado para potencializar filtros solares. Fonte: revistagloborural.com

O bambu apresenta mais de mil espécies espalhadas ao redor do mundo, que estão em sua maioria, divididas entre Ásia e América. No Continente Asiático, esse é um produto com uma vasta e variada gama de utilidades, sendo muito usado na medicina, nas áreas de cosméticos e de alimentos, entre outros. No Brasil, porém, a situação é diferente. Devido à falta de conhecimento sobre sua composição química e atividades biológicas, o bambu não tem encontrado muitas aplicações, com exceção de seu uso em construções ou como matéria prima para produção de objetos artesanais.

Esse foi o cenário que motivou o professor Paulo Roberto Hrihorowitsch Moreno – do Instituto de Química da USP e também orientador pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas da mesma Universidade – a conduzir um estudo para encontrar novas aplicações dessa planta, como sua utilização para potencializar filtros solares. Durante o trabalho, ele orientou Katarzyna Barbara Wróblewska, farmacêutica polonesa que veio ao Brasil para participar do projeto e produzir sua tese de doutorado. “Quando a gente fala de bambu, todo mundo acha que é uma coisa que só serve para fazer cerca, artesanato e nada mais. E o Brasil é um país muito rico dessa planta”, explica o professor. “Então, a gente queria ver se os bambus nativos daqui teriam uma composição química interessante para alguma outra atividade em que pudesse ser aplicada”.

O pesquisador também conta que, em estudos anteriores, foi observado que essa planta possui propriedades antioxidantes, o que foi fundamental para dar base a esse trabalho: “A gente tinha feito alguns trabalhos preliminares com outras espécies de bambu e viu que tinha bastante atividade oxidante”. Moreno ainda informa que “o objetivo desse trabalho era ver se os bambus nativos teriam uma capacidade de aumentar o fator de proteção solar – FPS – de filtros solares químicos usados hoje em dia”.

Isso só é possível pelo fato de a fotoproteção estar diretamente relacionada às propriedades antioxidantes. “Quando você é exposto ao sol, a pele produz compostos para se defender, ocorrendo a oxidação e a produção de radicais livres. É aí que acontece o fotoenvelhecimento da pele. Então, se algo possui propriedades antioxidantes, ajuda a proteger contra o efeito dos raios solares e esse tipo de coisa”, explica Moreno.

Durante o estudo, cinco espécies de bambu foram utilizadas: Aulonemia aristulata (Döll) McClure., Chusquea bambusoides Rupr. Ex Döll, Chusquea capituliflora Trin. var. pubescens McClure, Chusquea meyeriana Rupr. e Merostachys pluriflora Munro ex E.G. Camus. Segundo o professor, elas foram escolhidas por serem espécies endêmicas da Mata Atlântica. A partir disso, extratos dos colmos – caule – e das folhas dessas plantas foram utilizados para testar suas respectivas propriedades antioxidantes, composições químicas e capacidades fotoprotetoras.

De acordo com Moreno, quase todos os bambus utilizados no estudo foram capazes de aumentar o fator de proteção dos filtros solares. “Sozinho o bambu não tem atividade fotoprotetora significante” explica o professor. “Mas, quando está associado aos filtros solares sintéticos, ele consegue aumentar o valor da fotoproteção e dar mais estabilidade. Ou seja, o efeito protetivo desses filtros passa a durar mais tempo, quando está em conjunto com o extrato do bambu”.

Filtros solares com extrato de bambu. Fonte: imagem cedida pelo pesquisador

O professor também conta que esses resultados foram obtidos in vitro, devido à metodologia escolhida, e que a segunda parte do trabalho consistiu em realizar testes in vivo – em seres humanos: “As formulações que a gente preparou in vivo tinham um fator de proteção solar em torno de uns 20 ou 22 FPS. Deu um bom resultado também. Mas, in vivo, essas melhorias foram um pouco menores do que inicialmente”.

Ainda de acordo com o pesquisador, os resultados foram bem surpreendentes: “A gente já fez pesquisa com outros produtos naturais e foi um dos melhores resultados obtidos até agora, em termos da quantidade do aumento no fator de proteção e da estabilidade que também ocorre”.

Agora, a intenção de Moreno é estudar melhor os componentes envolvidos na relação estudada: “Queremos ver como essa interação entre o bambu e o filtro solar acontece e quais as espécies químicas envolvidas. Então, tentar isolar essas espécies e ver se os compostos isolados vão ter a mesma atividade que o extrato bruto testado”.

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