Em dissertação de mestrado, pesquisador do IGc traz novo olhar sobre contaminação de aquíferos

Para o estudo, mestrando realizou uma série de procedimentos em um aquífero fraturado localizado em Diadema, na Região Metropolitana de São Paulo

Aquífero em Poço Encantado (BA) - Foto: Zig Koch / Banco de Imagens ANA

Os aquíferos fraturados são formações geológicas de extrema importância para o abastecimento de água própria ao consumo humano. Por conta disso, sua contaminação representa um grande perigo para as pessoas que consomem a água que vem deles. Apesar disso, o assunto é pouco explorado mesmo na comunidade acadêmica, ainda que esses aquíferos abasteçam milhões de pessoas, inclusive em metrópoles importantes como São Paulo. 

É nesse contexto que um novo estudo sobre o tema, conduzido por Vinícius Augusto do Nascimento, do Centro de Pesquisas em Águas Subterrâneas (CEPAS), do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGc-USP), está prestes a ser publicado. No trabalho, dissertação de mestrado de Nascimento, é proposto um modelo conceitual hidrogeológico que tem o objetivo de trazer um novo olhar em torno dos impactos da contaminação dos aquíferos fraturados. 

“Um modelo conceitual é definido como a síntese escrita ou gráfica de um sistema e os seus processos, seja ele físico, químico e/ou biológico”, explicou o pesquisador. “Quando inserido dentro da hidrogeologia, ele busca caracterizar um sistema aquífero, desde sua geologia até a dinâmica de circulação da  água subterrânea”.

Em seguida, Nascimento esclareceu que um aquífero fraturado nada mais é do que um aquífero no qual a água consegue fluir em espaços gerados após a formação da rocha. “Imagine uma rocha com fraturas, quebras que possibilitem a água circular”. Os solventes clorados, por fim, são compostos químicos orgânicos frequentemente utilizados na indústria como solventes e que possuem grande impacto ambiental. 

Para investigar o assunto, o pesquisador se deslocou para a cidade de Diadema, na Região Metropolitana de São Paulo. A escolha não foi aleatória: “Diadema é uma área de industrialização antiga, em que as indústrias do passado não tinham consciência ambiental e o conhecimento que possuímos atualmente, o que acarretou diversos casos de contaminação”, justificou Vinícius.

A geologia da região, que conta com um aquífero fraturado de pouca profundidade, bem como a presença de poços de captação de água subterrânea, de contaminação e a viabilidade da investigação na área  foram fatores levados em consideração para a determinação do local como palco da pesquisa. 

Definida a região, foi iniciado o trabalho — inicialmente, buscando uma caracterização geológica do local. “Para a caracterização da geologia foram realizadas sondagens, perfurações no solo da área de estudo com coleta do material para a sua descrição”, relatou Nascimento. “Os dois poços de captação de água subterrânea, de cerca de 200 metros de profundidade, foram filmados por câmeras de alta resolução e outros equipamentos, como por exemplo, um perfilador acústico, que fornece uma imagem do poço por meio do tempo de resposta de ondas acústicas lá dentro, como se fosse um sonar.”

Vinícius explica que, para a execução desses processos, os equipamentos precisam ser inseridos no poço e descidos até a profundidade máxima. Altamente tecnológicos, eles adquirem os dados que são transmitidos para a superfície, onde são vistos em tempo real e posteriormente tratados, o que possibilita a caracterização da geologia.

Com o aspecto geológico abordado, o pesquisador prosseguiu para a investigação hidrogeológica. “Para a caracterização da dinâmica de fluxo da água subterrânea, um equipamento chamado flowmeter, ou medidor de fluxo, é inserido no poço.”

Como o próprio nome sugere, o dispositivo é capaz de fazer medições do fluxo da água subterrânea dentro do poço nas regiões de interesse, definidas durante a caracterização geológica. Estas zonas de interesse são justamente as fraturas por onde a água subterrânea circula no aquífero fraturado. 

Vinícius também ressaltou uma novidade aplicada pelo seu trabalho: a execução do ensaio de cross-borehole, que encara como uma positiva contribuição acadêmica. O processo consiste, basicamente, na injeção de  água em um dos dois poços, seguida pela observação da resposta no outro poço, com o auxílio do medidor de fluxo, segundo o pesquisador, que afirmou que “ainda não há publicações que o apliquem no Brasil”.

“Outros tipos de ensaios hidráulicos também foram executados, como o bombeamento do poço para identificar como o seu nível de água varia em relação ao tempo de bombeamento”, concluiu Nascimento.

“Acredito que a pesquisa contribui mostrando a viabilidade e a importância da investigação do aquífero fraturado, demonstrando que há sim contaminação no aquífero fraturado dentro da Região Metropolitana de São Paulo, mas que ela pode ser investigada evitando impactos e riscos à população”, finalizou o geólogo.

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