A demanda mundial de metais vem crescendo exponencialmente e, junto a ela, o aumento de rejeitos acumula-se no meio ambiente. Em sua dissertação de mestrado, no Instituto de Geociências da USP (IGc), Carla Palomino estudou os rejeitos de bauxita, as sobras da mineração do alumínio que não possuem valor econômico, e constatou uma possível aplicação desses materiais.
Normalmente, pela falta de aplicabilidade, os rejeitos são armazenados em grandes aterros e barragens construídos pela própria mineradora. Eles não necessariamente contaminam o ambiente, mas o poluem. São chamados de “passivos ambientais”, pois ocupam uma grande área de armazenamento e não possuem utilidades futuras. No caso dos rejeitos de bauxita, eles não são enriquecidos quimicamente e, por isso, não existe o risco de contaminação do meio ambiente.
Dessa forma, Carla pensou em estudar a aplicabilidade dos rejeitos de bauxita para além de um passivo ambiental. Por meio de análises laboratoriais, constatou-se que o rejeito da bauxita, em condições específicas de umidade, pode ser uma boa alternativa de material para a construção das barragens de mineração. “A mineradora hoje em dia não vê uso no rejeito. Ela simplesmente vai armazenando-o até chegar em um ponto em que precisa altear a barragem. Uma solução nossa foi: por que não utilizar esses rejeitos, ao invés de virar passivo ambiental, na barragem? É uma alternativa que demos às mineradoras”, afirma Palomino.
A pesquisa, com duração de dois anos, caracterizou três tipos de rejeito de diferentes épocas do ano. O material foi extraído de uma usina em Miraí, em Minas Gerais, e os testes focaram principalmente nas condições de resistência das amostras. “Com relação ao comportamento geotécnico, o rejeito de bauxita mostrou boas qualidades e características para aplicação. Moldamos os corpos de prova com diferentes tipos de umidade, já que existe a chamada ‘umidade ótima’. É nela que todos os materiais se comportam bem para o uso. Os valores mudam dependendo do material, mas os nossos foram em torno de 23% e 24% de umidade”, explica a pesquisadora.
Essa é uma das únicas pesquisas a estudar os rejeitos de bauxita lavada, aquela que ainda não passou por processos químicos. Ao ser questionada do porquê da escolha da bauxita, a mestranda explica: “Hoje em dia, a bauxita é o terceiro minério mais importante do Brasil e é o que mais exportamos. Chegamos no estudo também pela dificuldade em conseguir uma parceria com uma mineradora. Quem se dispôs foi a Votorantim, empresa que minera bauxita, e por isso direcionamos nossos estudos para ela”.
Além do emprego sustentável do rejeito, essa opção também oferece vantagens para a mineradora. Ao invés da empresa precisar procurar outras jazidas para a exploração e gerar ainda mais rejeitos, ela pode utilizar os próprios rejeitos armazenados. É uma economia de tempo e de dinheiro, segundo Carla. E ela adiciona: “Praticamente tudo que nos rodeia vem da mineração. Temos que compreender melhor e incentivar parcerias entre a universidade e as mineradoras, para pensar em soluções para os problemas”.
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