Pesquisador da USP investiga como alguns seres vivos essenciais para o ecossistema reagem ao aumento da temperatura terrestre

Variações de temperatura causam efeitos diversos em um pequeno espaço geográfico

Girinos ficam limitados às condições oferecidas pelo lugar em que nasceram até adquirirem a capacidade de ir para outros ambientes. [Imagem: Reprodução/Ruth Luciane/Flickr]

Em meio à crise climática, pesquisa feita no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) busca entender as respostas fisiológicas e comportamentais de pequenos animais ectotérmicos — aqueles que a temperatura corporal muda de acordo com o calor externo do ambiente — às mudanças de temperatura no espaço e no tempo. Inicialmente, o estudo buscava entender esse impacto especificamente em anfíbios (o grupo de vertebrados que inclui mais espécies ameaçadas de extinção) e, posteriormente incluiu as moscas da fruta (Drosophila melanogaster).

Na pesquisa, Carlos Arturo Navas Iannini procura desvendar como a diversidade térmica microclimática afeta larvas de anuro, girinos em fase larval, inseridas em micro habitats aquáticos. Os animais nessa fase foram escolhidos porque, durante esse período, os girinos ficam restritos ao corpo de água em que foram inseridos até virarem sapos, obrigando-os a lidar com as adversidades que o ambiente proporciona até adquirirem a capacidade de se deslocarem para outro ambiente.

“A presença dos anfíbios indica que as qualidades ambientais são boas. Eles não lidam bem com ambientes poluídos ou bastante degradados como outros grupos, então os anfíbios são o que a gente chama de bioindicadores”, diz o pesquisador. Além disso, ele explica que os anfíbios são importantes no ecossistema, atuando no controle de pragas, como os mosquitos, por exemplo: “Os anfíbios também contribuem para um balanço nos ecossistemas, se você tirasse os anfíbios, a gente acabaria, entre uma das consequências, tendo maiores incidências de doenças infecciosas por vetores”.

A pesquisa observou a capacidade fisiológica de diferentes espécies de sobreviver a temperaturas críticas, analisando as variações entre girinos de diferentes espécies em uma mesma escala local. Foi descoberta alta diversidade no limite de temperatura suportada dos organismos, e que ela é mais influenciada pela exposição microclimática da larva do que pelas relações filogenéticas, o que desafia concepções tradicionais sobre a similaridade térmica entre espécies relacionadas filogeneticamente.

Os resultados também revelaram diferentes condições térmicas dentro de um pequeno espaço geográfico no trecho da Mata Atlântica Brasileira, lugar em que o estudo foi feito, onde corpos d’água tiveram variações térmicas de maneira distinta, influenciadas por características estruturais, como a vegetação.

Outro ponto abordado na pesquisa é como um organismo com a capacidade de se deslocar livremente pelo espaço lida com as altas temperaturas. Assim, investigou-se as estratégias comportamentais das moscas-das-frutas ao voarem por temperaturas extremas. Os resultados indicaram uma variedade de respostas comportamentais, indo além da termofobia, com estratégias que variam e apresentam potencial evolutivo distinto em cenários extremamente frios ou quentes.

Por fim, a pesquisa sugere que variações térmicas espaciais e temporais, em escalas relevantes para os organismos, promovem diversidade fisiológica e comportamental entre as espécies e dentro das populações, evidenciando a compreensão dessas dinâmicas como mais uma das estratégias essenciais para proteger o futuro da vida no planeta.

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