Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP participa de estudo para mapeamento de genes envolvidos na resposta imune contra a dengue

Reações imunológicas por infecção natural e vacinação foram comparadas para a análise dos genes na doença

O mosquito Aedes aegypti é o principal transmissor do vírus da dengue. [Imagem: Reprodução/Wikimedia Commons]

A partir de dados de sequenciamento de RNA, pesquisadores da Universidade de São Paulo mapearam alguns dos principais genes envolvidos na resposta imune contra o vírus da dengue. Os dados de sequenciamento utilizados foram baseados tanto em casos de infecção natural como em estudos que serviram de “trials” (testes) para vacinas. Como exemplo pode-se citar o imunizante Q-Denga, aprovado no Brasil no início de 2024. 

Um dos objetivos iniciais da pesquisa visa à compreensão da assinatura desses genes no decorrer da doença por meio da infecção natural, dividida em três fases principais: aguda, crítica, também chamada de tardia, e de recuperação ou convalescência. 

Foram analisados quais os fatores presentes nas assinaturas dos genes durante a infecção e quais as principais semelhanças entre diferentes pacientes de lugares distintos. Com base na análise dos fatores em comum, os pesquisadores realizaram sobreposições para observar como essas assinaturas afetam na proteção contra a dengue. 

Além disso, os cientistas também observaram semelhanças nesses conjuntos de dados de vacinação de pacientes imunizados com diferentes trials de vírus atenuado.

Desirée Rodrigues Plaça, autora do estudo e doutoranda na USP pelo Programa de Pós Graduação em Farmácia (Fisiopatologia e Toxicologia) da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF), explica que, por meio de análises bioinformáticas, foi possível encontrar uma assinatura de dez genes comuns que aparentam ter importância significativa na fase aguda tardia. Essa fase é considerada um momento crítico da doença na qual ocorre uma mudança para a dengue de sinais de alarme ou grave. A pesquisadora ainda acrescenta que os genes analisados estão expressos tanto na infecção natural como após a vacinação e, por aparecerem de forma proeminente, há possibilidades de serem utilizados como detectores de prognóstico, o que pode contribuir na descoberta com antecedência de pacientes propensos a manifestarem sintomas mais graves. 

Estratégias terapêuticas

A ausência de um tipo de tratamento específico para a dengue leva os cientistas a explorarem alternativas terapêuticas para o tratamento da doença. É justamente nesse quesito que o estudo de mapeamento dos genes, associado ao Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da FCF, se torna inovador e de grande importância na comunidade científica. Esses genes podem ser usados como alvos para o desenvolvimento de medicamentos e até mesmo no monitoramento para a eficácia de vacinas já existentes ou que ainda vão ser produzidas. 

Apesar da pesquisa a respeito de novas estratégias terapêuticas se encontrar em um estágio inicial, Desirée esclarece que grande parte dos genes observados têm a função de proteção contra o vírus da dengue, seja através da inibição de sua replicação ou do reconhecimento do vírus, que estimula a ativação da resposta imune do corpo. “Uma estratégia possível seria o desenvolvimento de um medicamento que induzisse a produção dessas moléculas ou de moléculas agonistas, que se ligariam em receptores desse gene para exercer as funções de proteção antecipadamente”, acrescenta. Um fator prejudicial notado pelos pesquisadores é a existência de alguns genes que produzem “tempestades de citocina” da dengue, ou seja, uma produção disfuncional e exacerbada de resposta imune. Esse fenômeno pode desencadear problemas como o acúmulo de líquidos nas regiões abdominal (ascite) e torácica (efusão pleural) na fase grave da doença. Ainda que se trate de hipóteses de pesquisa, a partir do desenvolvimento de novos alvos terapêuticos, haveria uma possibilidade maior de controlar essa resposta imune, a fim de que o tratamento e controle dos sintomas possa ser mais específico.

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