Melhoria do desempenho humano pode evitar acidentes em portos

Pesquisa realizada na Escola Politécnica da USP analisa condições humanas que interferem na eficiência da navegação em águas restritas, diminuindo a ocorrência de encalhes

Pesquisa analisa contribuição humana em atividades de navegação para atenuar riscos_Fonte-arquivo pessoal do pesquisador

O comandante de um navio é a maior autoridade a bordo, pois ele cuida das estratégias de navegação e dos assuntos administrativos. Porém, a atividade de outros operadores pode interferir ainda mais na realização de manobras em águas restritas, isto é, dentro das áreas dos portos, e na diminuição dos riscos de acidentes. É o que mostra a dissertação de mestrado de Danilo Taverna, da Escola Politécnica (Poli) da USP.

Desenvolvida entre 2018 e 2021, a pesquisa foi intitulada Análise da contribuição do fator humano ao risco da navegação em águas restritas e teve a orientação de Marcelo Ramos Martins, doutor em Engenharia Naval e Oceânica e professor da Poli. O estudo buscou compreender como os operadores humanos influenciam as manobras de entrada e saída dos navios em portos brasileiros. Entre eles, está o “prático”, um profissional que possui experiência no porto em questão e fica responsável por auxiliar o comandante.

Segundo Taverna, os navios estão aumentando de tamanho, por fatores econômicos, mas os canais de acesso dos portos não estão acompanhando. Por isso, é necessário entender como melhorar o desempenho da navegação para evitar acidentes como o encalhe.

O pesquisador realizou estudos de campo no porto de Santos, no litoral paulista, além de simulações nos laboratórios da Poli. A metodologia utilizada se baseou nas chamadas Redes Bayesianas, um modelo que provém da inteligência artificial e analisa dependências entre as variáveis para calcular probabilidades. No caso do estudo, foi feita a modelagem do desempenho humano a partir das habilidades do operador, incluindo fatores como: fadiga e estresse, condições ambientais e questões organizacionais. 

A dissertação apontou quais condições influenciam a navegação do navio em águas restritas, além de realizar comparações entre cenários com ou sem a ação do “prático”, em que se percebeu a diminuição da probabilidade de acidentes tendo um ou mais “práticos” a bordo.

Taverna acompanha rotina de nagevação em portos brasileiros. Fonte: arquivo pessoal do pesquisador

Aperfeiçoamento da atividade humana

A pesquisa apontou quatro fatores que afetam a probabilidade de erro humano: experiência prática de atuação no porto; treinamento, para realizar manobras de acordo com o local; trabalho em equipe; e cultura de segurança. 

Nos gráficos a seguir, é possível visualizar a sensibilidade relativa às habilidades para o cenário de colisão durante a navegação hidroviária considerando nenhum, um e também dois ou mais “práticos” a bordo, respectivamente.

Cenário sem práticos a bordo. Fonte: elaborado pelo autor
Cenário com um prático a bordo. Fonte: elaborado pelo autor
Cenário com dois práticos a bordo. Fonte: elaborado pelo autor

Existem equipamentos que apoiam a atividade dos “práticos” na navegação, entre eles o Portable Pilot Unit (PPU). “Trata-se de um equipamento que você instala no navio, como uma espécie de antena, e conecta o sinal a um tablet. Com isso, é possível fazer uma projeção em função da velocidade do navio e do ângulo em que ele está em relação ao canal, para calcular onde ele vai estar daqui a uma determinada quantidade de tempo, e ver se há chance de encalhe”, explica Taverna.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*