Estação Biológica de Boracéia preserva grande área da Mata Atlântica

Com diversas espécies endêmicas, Estação é importante campo de pesquisa para a Zoologia

Entrada da Estação Biológica de Boracéia [Imagem: Guilherme Ide/Flickr]

As atividades na região onde se localiza a Estação Biológica de Boracéia (EBB) – Litoral Norte do Estado de São Paulo – iniciaram-se em 1938 pelo Instituto Agronômico de Campinas (IAC). No local, foi instalada a Estação Experimental de Quina, que tinha como objetivo estudar o quinino, substância presente em remédios que combatem a malária.

A atuação do IAC encerrou-se em 1952 e durante esse período se deram as primeiras pesquisas zoológicas na área. “Em 1941, o pesquisador Lauro Travassos Filho ficou sabendo dessa área e começou a frequentá-la. Ele convidou pesquisadores do Brasil e de fora do país para fazerem amostragens com diversos grupos de animais”, diz Renato Oliveira, biólogo e chefe da Seção de Apoio à EBB. 

Somente em 1954, o domínio da área passou a ser do Departamento de Zoologia da USP e a EBB pôde ser construída. Por dispor de uma grande área de preservação de Mata Atlântica e um índice de umidade particular, a Estação possui diversas espécies endêmicas e uma biodiversidade exuberante.

“Quando se junta nessa ‘receita’ a topografia, o tipo de vegetação, o nível de preservação e a quantidade de água no local, é quase impossível uma área como essa não ter uma biodiversidade. Ela tem toda uma particularidade e possui um potencial até para determinados graus de endemia que você não encontra em outros pontos de Mata Atlântica”, diz Renato.

Segundo o biólogo, os três pilares que regem a administração da Estação são a Pesquisa, a Conservação e a Educação. “Quanto mais a pesquisa avança, maior a quantidade de conteúdo para você educar. E quando você fortalece a pesquisa de uma área, você mostra a importância de se conservar aquela região”, completa.

Aves na Estação

Uma das pesquisas que acontecem na EBB atualmente é coordenada pelo professor Luís Fábio Silveira, curador da sessão de aves e vice-diretor do Museu de Zoologia (MZ). A pesquisa ocorre de duas formas: a produção de um inventário de aves e o estudo do padrão de distribuição altitudinal do mesmo grupo de animais.

Segundo Luís, a amostragem de aves na região da Estação vem sendo feita desde 1942 e um dos objetivos de sua pesquisa é continuar este trabalho. “Talvez seja a única localidade da Mata Atlântica que vem sendo monitorada há mais tempo de forma contínua”, completa.

Além do inventário, a pesquisa busca estudar como as aves se distribuem conforme a altitude da região. A Estação se encontra na Serra do Mar, cadeia montanhosa próxima ao litoral paulista. Por conta dessa localização privilegiada, existe uma grande variação de altitude, o que permite estudos que vão “desde a base, a Praia de Boracéia, até o topo, o pico da Serra”.

A importância da Boracéia

Não são todas as universidades e centros de pesquisa que têm à disposição uma área como aquela oferecida pela EBB. Nesse sentido, Luís enaltece a relevância da Estação não somente para as pesquisas dentro da USP, como também para a pesquisa da fauna no Brasil por inteiro.

“​​Temos dados [coletados] sobre a mudança na composição da fauna há 80 anos, o que é incrível quando você pensa em projetos no Brasil, que geralmente não duram tanto tempo assim. Então, a grande importância da Estação é assegurar essa continuidade das pesquisas em uma área muito bem preservada”, afirma Luís.

Segundo Renato, a importância da EBB ultrapassa a pesquisa e a ciência, pois ela possibilita que o estudante e o pesquisador se conectem com a área da biologia e seus saberes. “A observação é o que traz bagagem ao biólogo. Quando vamos para campo, vemos coisas que não conseguiríamos ler em nenhum trecho de uma publicação ou visualizar em nenhum bicho de acervo do Museu.”

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