Os pesquisadores Eduardo Victorio Morettin (USP), Arthur Autran Franco de Sá Neto (UFSCAR), Marcos Napolitano (USP), Rosana de Lima Soares (USP) e Tania da Costa Garcia (UNESP) fazem parte do projeto Audiovisual, História e Preservação: o lugar dos cinejornais e das telerreportagens brasileiros na construção da memória (1946-1974), vinculado ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que pretende resgatar um importante acervo da Cinemateca, hoje inacessível ao público.
O coordenador do grupo, Eduardo Victorio Morettin, concedeu entrevista à Agência Universitária de Notícias (AUN) e contou um pouco mais sobre o material a ser resgatado, sua história e os desafios técnicos associados ao resgate de um acervo que pode se encontrar em diferentes condições de conservação.
Segundo o professor, a relação próxima da USP e da Cinemateca, de colaboração técnica e compartilhamento de pesquisadores, contribuiu para a realização de um desejo antigo: “colocar à disposição de um público mais amplo uma parte do acervo”. Especificamente, uma parte mais conhecida, a dos cinejornais, e outra menos conhecida, a das telereportagens da TV Tupi, gravadas entre 1950 e 1974.
Eduardo diz que “a ideia consiste em pensar a partir de um problema de pesquisa quais as ações possíveis em relação a esse acervo, a fim de que ele possa ser objeto de restauro, de catalogação e de digitalização, para que um público mais amplo possa consultar.”
Um dos temas a serem levantados é o das celebrações audiovisuais do golpe de 1964, mas o professor explica que “esses materiais não estão disponíveis para visionamento, eles estão lá numa lata, então a gente chega a um conjunto e avalia qual é a situação dele. Ah, está em excelente estado! Ótimo! Não está!? Então precisa restaurar. Os dados do filme estão no sistema? E aí ele é digitalizado e vai para o banco de conteúdos culturais.”
Os resultados do trabalho devem começar a surgir ainda neste ano. “Vamos apresentar o resultado desse trabalho em um encontro científico já em dezembro, mas a expectativa é que no próximo ano a gente tenha resultados mais concretos”, explica Morettin.
O professor também falou dos desafios de trabalhar com milhares de horas de material, como é o caso dos cinejornais, que ainda tem como agravante o fato de que pouco se sabe sobre o contexto das notícias ali veiculadas, já que toda a documentação que se tem é o próprio telejornal – o que se torna, neste caso, um desafio ainda maior já que “você não tem muitos estudos sobre telejornalismo na Tupi, sobre esses programas e as linhas editoriais.”
Colaboração Internacional
Morettin ressalta que o projeto também necessita de intercâmbio entre as áreas do conhecimento e pesquisadores de outros países. Cita ainda o exemplo da França, que por possuir uma lei que obriga o recolhimento da produção audiovisual veiculada na televisão, tem um acervo com bilhões de horas de conteúdo, já analisado por outros pesquisadores.
Segundo o professor, os franceses desenvolveram ferramentas de busca baseadas na Inteligência Artificial. “Hoje você tem esses programas de identificação facial que eles usam para fazer buscas em acervo.”
Já no Brasil a história deve ser diferente: sem uso de IA, assim como no caso espanhol, conforme explica Eduardo. Em junho do próximo ano o grupo de pesquisa vai receber o professor Vicente Sánchez-Biosca para um seminário na Cinemateca. “Esse seminário vai ser o primeiro de uma série que vamos organizar para chamar pesquisadores que estão trabalhando com essas questões e trocar conhecimento.”
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