Em sua tese de doutorado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Igor de Bruyn Ferraz analisou três projetos empreendidos pelo sambista e militante antirracista Antonio Candeia Filho: o Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba (Granes) Quilombo; Escola de Samba: a árvore que perdeu a raiz (1978), livro escrito em parceria com Isnard Araújo, além do lançamento de dois discos intitulados Partido em 5, Volumes 1 e 2.
A ideia para o tema surgiu quando Igor, que também é músico, estava fazendo a passagem de som com outros artistas e eles comentaram sobre os dois volumes do Partido em 5, lançados em 1975 e 1976. “Comecei a notar e mostrei para outros colegas que era um som muito peculiar e que com pouquíssimos instrumentos você chegava num balanço de samba assim que você fala: ‘meu Deus do céu, quem são esses caras? O que é isso?’”, explica.
Os discos são tratados na tese como uma forma sonora de protesto, compostos a partir de um “samba sem poluição”. À época, Candeia intentou, segundo o pesquisador, recuperar as origens do samba, que se popularizava cada vez mais com o enriquecimento das escolas de samba. E daí também surgiu o Granes Quilombo, que fazia desfiles de acordo com a realidade dos membros, sem seguir as restrições impostas pela municipalização dos desfiles carnavalescos.
Em confronto ao projeto nacional da década de 30 de tornar o samba parte da identidade brasileira, Candeia foi importante para relembrar o que é o samba e de onde ele vem. Segundo Ferraz, a tentativa de tornar o samba parte de uma brasilidade, fruto de três raças, agiu como um rolo compressor que chegou até a silenciar o samba como objeto de protesto. “Por esse emblema de brasilidade perde-se, por exemplo, a dimensão de que esse disco [Partido em 5] soa como uma forma de protesto. Não só de retomada do samba ao sambista, dentro dos valores que corroboram a prática e vivência do sambista, como também como um mote de protesto contra o racismo”, acrescenta.
Segundo o pesquisador, o samba ainda é um objeto pouco estudado pelos acadêmicos, principalmente na musicologia. Por fim, ele explica que a importância do trabalho de Candeia é inapagável do samba e da música brasileira, seja por ser compositor de sambas enredos icônicos, e de grandes músicas gravadas por nomes como Clara Nunes, Paulinho da Viola, além de outros nomes célebres, ou seja pelo trabalho de defender um “samba sem poluição” que enaltece as populações — muitas vezes marginalizadas — que vivem do samba.
Faça um comentário