
Um estudo publicado em maio na revista científica The Lancet Regional Health – Americas, coordenado por pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB) e da Faculdade de Saúde Pública da USP (FSP), analisou os padrões de infecção por malária durante a gravidez em várias localidades do Brasil. Ao longo de 15 anos, os cientistas avaliaram dados de mais de 60 mil gestantes que haviam contraído a doença, a fim de mapear os focos de contágio.
“O objetivo do estudo era traçar um panorama da doença, tanto na região endêmica, o Norte, como na região extra-amazônica”, explica Jamille Dombrowski, pesquisadora do ICB-USP. “A ideia era fazer não apenas um levantamento dos casos de malária gestacional, mas uma análise de como se deu a evolução da doença no país ao longo dos anos”.
Por meio da consolidação de dados obtidos a partir do Sistema de Informação de Vigilância Epidemiológica e Notificação de Casos (Sivep-Malária), do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc) e do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), os pesquisadores identificaram municípios no Amazonas, Acre, Rondônia e Pará com alta incidência de malária na gestação. Outra descoberta foi a de que mulheres jovens são mais propensas a contrair a infecção (cujo agente causador é um parasita do gênero Plasmodium, transmitido pela fêmea infectada do mosquito Anopheles).
Segundo o Guia de Tratamento de Malária no Brasil, criado pelo Ministério da Saúde, gestantes e crianças com menos de 6 meses de idade não devem usar a primaquina. No caso de infecções pelo Plasmodium vivax, espécie predominante no Brasil, as mulheres grávidas devem ser tratadas com cloroquina por três dias. Depois, é indicado um tratamento preventivo, com a ingestão do medicamento semanalmente até um mês de aleitamento. O objetivo dessa medida é prevenir recaídas, que são provocadas por uma forma do parasita que se mantém dormente no fígado, chamada de hipnozoíto.
Segundo a pesquisadora do ICB, as informações reveladas pelo estudo são de grande importância para os agentes responsáveis por elaborar as políticas de combate à malária. “Os mapas que construímos, indicando os clusters (aglomerados) de maior incidência da doença, podem auxiliar o Ministério da Saúde e os serviços públicos regionais de saúde como um todo a detectar com mais facilidade as regiões críticas e voltar a atenção para esses locais”.
* O artigo “Mapping and characterizing areas with high levels of malaria in pregnancy in Brazil: A spatiotemporal analysis” (DOI: 10.1016/j. lana.2022.100285 ) de Jamille Gregorio Dombrowski, Laura Cordeiro Gomes, Camila Lorenz, Raquel Gardini Sanches Palasio, Paola Marchesini, Sabrina Epiphanio e Claudio Romero Farias Marinho, pode ser lido em: https://www.thelancet.com/issue/S2667-193X(21)X0010-5
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