Laboratório da USP estuda possibilidades de vida fora da Terra

Estudos ajudam a entender o que se passa no espaço. [Imagem: Reprodução/ PX Here]

Estamos sozinhos no universo? Esse é um dos questionamentos que o Laboratório de Astrobiologia da Universidade de São Paulo (USP) tenta responder. Por meio de pesquisas, eles estudam a respeito da interação entre biosfera e ambiente. 

Fábio Rodrigues, professor do Departamento de Química Fundamental do Instituto de Química (IQ) da USP e coordenador do AstroLab — como o laboratório é conhecido —, conta que a ideia de criar um laboratório de pesquisas integrado surgiu em 2011, a partir de conversas com outros pesquisadores interessados no tema de astrobiologia. 

Antigamente, a sede do Astrolab estava instalada na unidade do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP em Valinhos, São Paulo. Hoje em dia, o laboratório integra o  Núcleo de Pesquisas de Astrobiologia e está localizado no IQ-USP.  

Para Rodrigues, é essencial que diversas áreas do conhecimento atuem na astrobiologia, já que esse é um campo multidisciplinar. Além disso, o laboratório serve como um espaço integrado e aberto para diversos pesquisadores utilizarem o local para desenvolver pesquisas com esse tema. 

Laboratório de Astrobiologia. [Imagem: Acervo Pessoal/Beatriz Pecinato]
Laboratório de Astrobiologia. [Imagem: Acervo Pessoal/Beatriz Pecinato]

O início da astrobiologia

Entre as décadas de 1950 e 1970, os Estados Unidos e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) protagonizaram a corrida espacial, uma disputa em que essas potências da Guerra Fria buscavam dominar a tecnologia que os permitiria realizar viagens ao espaço. É nesse contexto que a área de astrobiologia surge, para responder às clássicas perguntas “Nós estamos sozinhos no universo?” e “Existe vida fora da Terra?”.  

Antigamente, a temática não tinha tanta credibilidade, devido a dificuldade em encontrar um objeto de estudo definido. Em 1970, uma expedição espacial que buscava vida extraterrestre fracassou, e a área da exobiologia — nome pelo qual era conhecida antigamente — perdeu ainda mais força. “Na ciência, toda corrente que não encontra provas de sua evidência torna-se uma pseudociência, e foi isso que aconteceu com a exobiologia”, discorre o professor. 

Entretanto, em 1990, esse cenário muda de forma: um meteorito que poderia ser constituído de material fóssil foi encontrado e Bill Clinton, presidente dos Estados Unidos na época, vai a público declarar a importância dos estudos astronômicos. 

Assim, a exobiologia muda de nome e passa a ser conhecida como astrobiologia e os pesquisadores voltam a discutir a temática, agora com um objeto de estudo definido e passível de ser comprovado. “A astrobiologia se propõe a estudar a vida na Terra e os ambientes extraterrestres, a fim de descobrir se esses são locais habitáveis”, explica Rodrigues. 

As linhas de pesquisa 

Os estudos realizados pelo laboratório são norteados por três perguntas básicas: onde procurar, o que procurar, e como procurar, levando em consideração os modelos de vida terrestre. Dentro da interface da microbiologia com a química, os estudiosos utilizam três linhas principais que baseiam as pesquisas. 

A primeira analisa ambientes que possuem condições climáticas extremas, como a Antártica e o Deserto do Atacama, ou locais com condições normais que possuem algumas características extremas, como a região ferrífera de Minas Gerais, que possui altas concentrações de ferro e alta incidência solar. Essa primeira etapa é essencial porque analisa se os microrganismos trabalhados são resistentes aos ambientes escolhidos. 

Depois que os microrganismos são examinados, a segunda linha de pesquisa consiste em realizar simulações ambientais,  recriando as condições da superfície de Marte, por exemplo. Por fim, a terceira linha é uma continuação das outras duas: depois que o microorganismo é selecionado, testado nos ambientes e consegue sobreviver, os pesquisadores passam a estudar como encontrar vida extraterrestre, por meio de bioassinaturas — moléculas que sinalizam a existência de vida. 

Bactérias do solo de Diamantina não identificadas. [Imagem: Reprodução/Ana Paula Schiavo]
Bactérias do solo de Diamantina não identificadas. [Imagem: Reprodução/Ana Paula Schiavo]

Astrobiologia no dia-a-dia 

À primeira vista, os estudos realizados com a temática da astrobiologia parecem distantes do dia-a-dia da população. Entretanto, como explica o professor, algumas criações resultantes de estudos desse campo estão inseridas, ainda que muitas vezes indiretamente, no cotidiano. 

“Um dos espectrômetros que foi para Marte, desenvolvido por um grupo americano, foi usado posteriormente por aeroportos para detectar se os passageiros estão portando explosivos ou drogas”, exemplifica Rodrigues.

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