Ampliação da prática clínica na enfermagem beneficia a promoção da saúde

A dinâmica interprofissional em equipe pode contribuir com agilidade e eficiência nos atendimentos na Atenção Básica da Saúde

Formação de qualidade dos profissionais de enfermagem é essencial para a ampliação da prática clínica na promoção da saúde. [Imagem: Reprodução / Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo]

O trabalho de enfermagem exerce uma função essencial para uma melhor promoção da saúde, principalmente na Atenção Básica de Saúde – atendimentos iniciais da saúde que previnem e orientam possíveis casos de potencial agravante – nos serviços públicos. Essa atividade profissional, conforme explicam especialistas da área, relaciona-se intimamente com o trabalho em equipe e multiprofissional.

Diante dessa configuração, Carla Aguiar, pesquisadora da Escola de Enfermagem (EE) da Universidade de São Paulo (USP), explora o papel do enfermeiro nas articulações voltadas à saúde, a partir de seu estudo qualitativo Ampliação da prática clínica da enfermeira de Atenção Básica no trabalho interprofissional

“O fato do enfermeiro ter uma prática clínica muito grande dentro da atenção básica, não ser só aquela pessoa que tem um papel de supervisão e de gestão do serviço, mas que tem um raciocínio clínico, foi um resultado importante”, avalia a pesquisadora. Marina Peduzzi, professora da EE-USP e orientadora da pesquisa, afirma que essa mudança no exercício da enfermagem envolve um fenômeno internacional.

Ampliação da prática clínica 

A pesquisa de Carla parte de uma análise de caso do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf), em que já se realizava o trabalho em equipe multiprofissional de forma positiva, por meio de entrevistas com os integrantes e observações de campo da rotina da unidade. Assim, a avaliação conjunta dos conteúdos levantados apontou para uma importante ampliação da prática clínica da enfermagem, na medida em que ações clínicas, antes estritamente designadas aos médicos, passaram a ser desempenhadas com destreza pelos enfermeiros. 

Outro aspecto observado na pesquisa de Carla é o papel da boa comunicação dos agentes e o seu impacto positivo na condução dos casos. Por conta da maior proximidade com o paciente, o enfermeiro contribui, em grande medida, com uma condução mais particular dos casos, como promover um atendimento que englobe toda a esfera social em torno do paciente, incluindo seu núcleo familiar, por exemplo. 

Melhor promoção de saúde 

 Os resultados da pesquisa, além de apontarem para uma ampliação da prática clínica da área, demonstraram os benefícios dessa dinâmica interprofissional no dia a dia das unidades de atenção primária. Marina também destaca a relevância da atuação enfermeira no acompanhamento e atendimento de casos crônicos, uma vez que, a partir de protocolos já estabelecidos pelo Ministério da Saúde, os enfermeiros podem atender a essa demanda.

O funcionamento multiprofissional em equipe junto à prática clínica, na visão de Carla, confere uma maior agilidade, menos custos e menor perigo de sobrecarga do sistema. A partir de uma mão de obra menos custosa que os profissionais médicos, mas capazes de atender casos de acompanhamento contínuo – como diabetes e hipertensão – há um melhor aproveitamento do tempo, pois não há a necessidade do médico para toda a demanda. 

Além disso, é possível impedir que um paciente de baixo a médio risco evolua para o alto risco. “A pessoa hipertensa que passar uma vez por ano com o médico pode ter uma dieta totalmente bagunçada, não usar medicação e ter um AVC. Com a prática clínica, há um acompanhamento da enfermagem que diminui o risco da pessoa evoluir para outras comorbidades”, explica Carla. 

Desafios para a implementação 

Ainda há resistências acerca do modelo de organização apresentado por Carla e Marina. “Uma barreira importante que eu vejo é a ideia de hegemonia médica na formação do trabalhador e a postura da população que ainda defende a obrigatoriedade de passar pelo médico”, considera a pesquisadora. 

Essa resistência não se forma apenas pela sociedade, conforme explica Carla, mas também a comunidade médica se mostra conservadora diante da ampliação clínica da enfermagem. Um dos motivos disso é o compartilhamento de funções, como a prescrição de remédios já receitados pelo médico e a realização de consultas de rotina, por vezes, interpretada como disputa de posições. Em paralelo, a questão salarial dos enfermeiros também é levantada, na medida em que estão se capacitando cada vez mais sem o reconhecimento e a remuneração proporcionais. 

Marina destaca um desafio da própria comunidade profissional: a formação técnica de qualidade. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), no Brasil há um grande desequilíbrio entre os enfermeiros formados com ensino superior – cerca de 24% – e técnicos de enfermagem – aproximadamente 75%. Dessa forma, a professora ressalta a importância de uma maior atenção para o tópico, já que influencia diretamente na promoção da dinâmica positiva que foi analisada na pesquisa.

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