Pesquisa explora a leitura que a novela Avenida Brasil fez do Brasil da época

Exibida originalmente em 2012, telenovela brasileira mais exportada do mundo inovou ao trazer como protagonistas membros da nova classe média do país e virou objeto de pesquisa

Nina (Débora Falabella) e Carminha (Adriana Esteves) são as protagonistas de Avenida Brasil - Imagem: Reprodução/Globo

O aluno de pós-graduação Leonardo de Sá Fernandes defendeu sua dissertação de mestrado pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP). Orientada pela professora Maria Immacolata Vassallo de Lopes, a pesquisa abordou a telenovela brasileira Avenida Brasil, detalhando o emparelhamento da obra de João Emanuel Carneiro com o momento histórico do país na época de exibição.

O ano era 2012, e os embates entre as personagens Nina (Débora Falabella) e Carminha (Adriana Esteves) no subúrbio carioca alcançaram recordes de audiência na televisão aberta, consolidando Avenida Brasil como a novela brasileira mais vendida internacionalmente. Foi a partir desse sucesso que Leonardo de Sá Fernandes, então estudante de jornalismo e também de dramaturgia, vislumbrou possibilidades de interpretação da telenovela.

“Enquanto espectador, fui capturado pela narrativa e pelas visíveis novidades estéticas que ela apresentava. Era um momento, no Brasil, em que de fato a gente vivia esse surgimento de uma nova classe média, com mais pessoas podendo viajar de avião, por exemplo, ou ter acesso à universidade”, diz.

O pesquisador credita o êxito da novela, entre outros fatores, à representatividade dessa parcela da sociedade que ascendia e menciona como foi inédito não ter um grupo de pessoas da elite como protagonistas, como as “Helenas” das tradicionais novelas de autoria de Manoel Carlos. Em sua tese, Leonardo aprofunda a questão social e visualiza como o roteiro da telenovela problematiza de forma indireta o conceito de nova classe média: a história do núcleo principal de personagens está pautada no aumento do poder aquisitivo, mas não vem necessariamente acompanhada de uma amplitude do capital cultural.

A pesquisa ainda ressignifica o enredo de vingança de Nina, que se infiltra na casa de Carminha para vingar a morte do pai. O autor nota como a trama se assemelha à de Electra, heroína das tragédias de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, e investiga como essa releitura de uma narrativa da antiguidade pode atualizar-se à luz de temas contemporâneos. A esse respeito, o pesquisador afirma: “essa vingança da protagonista ecoava também certa vingança dessa nova classe média que, até então, esteve alijada de direitos sociais mas, através do poder de consumo, conseguiu alcançar um novo tipo de protagonismo no debate público.”

Sobre a importância cultural de se estudar as ficções, Leonardo ressalta como obras do gênero contam histórias de um povo e criam identidades. “No caso da telenovela, acredito que, parafraseando minha orientadora, trata-se da ‘narrativa da nação’. A gente vê o Brasil através da telenovela. Nossos dilemas, nossas histórias, nossa cultura, tudo isso está retratado ali”, conclui Leonardo.

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