Pesquisa da USP analisa relação da natureza com a Terapia Ocupacional

Estudo do Labret identifica publicações de 1980 até 2022 sobre o tema

mão na terra
Pesquisadores buscam entender como Terapia Ocupacional se relaciona com questões ambientais [Imagem: Mariana Krunfli/Acervo Pessoal]

O Laboratório de Reabilitação com Ênfase no Território (Labret), do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional (Fofito), da Universidade de São Paulo (USP), realiza pesquisa sobre a relação da Terapia Ocupacional com o meio ambiente. O estudo, que busca analisar o que profissionais da área pensam sobre questões ambientais, pesquisou e identificou publicações de 1980 até 2022, no mundo inteiro, sobre o tema.

“Os terapeutas ocupacionais tentam entender como falar de natureza, mas eles ainda não têm ferramentas claras para incorporar essa relação com a natureza da forma mais consistente”, explicou Ana Cristina Fagundes Souto, terapeuta ocupacional que acompanha o projeto coordenado pela professora Fátima Oliver. “A pesquisa é importante para qualificar e decodificar as formas nas quais a Terapia Ocupacional atuou na relação com a natureza, para a gente sinalizar quais são as direções de produção de conhecimento da área”.

A pesquisa, que ainda está em fase de análise, encontrou, até agora, três grandes agrupamentos de temas nas publicações: Cultura de Jardinagem, Desenvolvimento Ecológico e Desequilíbrio Ecológico. Ana explicou que o primeiro agrupamento reuniu textos sobre a natureza como recurso terapêutico e a presença no ambiente verde; o segundo, como meio constitutivo do território; e, o terceiro, os grandes desastres ambientais e o sofrimento humano diante da calamidade.

Para a análise, a pesquisa reuniu as publicações em planilhas e dividiu os textos por grupos de datas: de 1980 até 2010; 2011 até 2015; 2016 até 2020; e 2020 até 2022. “Quando analisamos o período de 2021 até 2022, a mesma quantidade de textos do período de 2011 até 2015 foi produzida. Então, esse período de dois anos atrás foi muito importante”, afirmou Milene Aparecida dos Santos, estudante do terceiro ano do curso de Terapia Ocupacional e bolsista da pesquisa.

Milene explica que a pandemia não foi único motivo para o pico de publicações no último período analisado pelo estudo: “A pandemia foi um dos fatores, mas isso diz muito sobre o governo que a gente estava até o ano passado, sobre os diversos desastres ambientais que tivemos – principalmente lá no Pantanal – e a retirada de recursos da Amazônia”.

Com a percepção de uma diferença na compreensão da Terapia Ocupacional entre o norte e o sul global, o estudo também descobriu transformações nas perspectivas dos textos ao longo dos anos. “Os principais textos antigos tendem a discutir mais sobre uma questão habilitativa, e os mais atuais – de 2015 para frente – falam, com maior frequência, sobre a importância de estar presente naquele ambiente, de você estar ocupando um espaço de pertencimento, não somente de reabilitação”, comentou Milene. 

“A gente vai entendendo que passou para essa discussão do que é o ambiente da natureza, não é mais a natureza como algo que vai exercer uma função, mas de você poder estar em relação com ela, que também tem relação com a produção da saúde”, acrescentou Ana.

A pesquisa, que começou em setembro de 2022 e já identificou as publicações a serem estudadas, se encontra em fase de análise dos textos e deve ter continuidade conforme seu desenvolvimento. Nesse momento, a gente está fazendo uma retrospectiva do conceito de natureza, de quando as pessoas começaram a falar sobre, em que campos as nomenclaturas e conceitos – como meio ambiente, sustentabilidade e natureza – surgem e se eles são absorvidos na Terapia Ocupacional ou se ela vai produzindo outras leituras”, contou Ana, que garantiu que o trabalho será reunido em um artigo acadêmico e publicizado depois de finalizado. 

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