Grupo da USP em parceria com oito instituições brasileiras pesquisa maneiras de tornar as cidades mais inteligentes

Trabalho do projeto InterSCity mostra que a ciência pode ajudar na criação de políticas públicas

Modelo de cidade inteligente. Imagem: Pixabay

Projeto de pesquisa colaborativo vinculado ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) da Internet do Futuro para Cidades Inteligentes, o InterSCity já atua há cinco anos e conta com mais de 100 pesquisadores e estudantes distribuídos entre nove instituições brasileiras e áreas como matemática, arquitetura, educação e saúde. Para Fábio Kon, docente do Instituto de Matemática e Estatística da USP (IME) e coordenador do projeto, o objetivo do grupo é “explorar novas tecnologias para melhorar a qualidade de vida nas cidades.”

O projeto, financiado por parceria entre CNPq, Fapesp e Capes, conta com três frentes de pesquisa: rede e computação distribuída de alto desempenho, engenharia de software para internet do futuro e análise e modelagem matemática para cidades inteligentes. Mas o que são cidades inteligentes? Fábio conta que sua definição do conceito mudou com os anos de pesquisa no grupo. “Se você for ver um material de propaganda tradicional, ele vai dizer que [cidade inteligente] é o uso de tecnologia para resolver os problemas urbanos. Hoje vejo que essa definição é mal usada. Para mim a definição de cidade inteligente é uma cidade que usa a ciência para definir suas políticas públicas”. E continua: “A tecnologia é só um meio para implementar essas políticas públicas baseadas em ciência.”

O grupo tem previsão para encerrar suas atividades no fim de 2024, mas os resultados desses anos de trabalho já podem ser sentidos. Entre eles, o principal foi o desenvolvimento de uma plataforma de software de código aberto para cidades inteligentes. “É um sistema de software que serve como base para a construção de diferentes aplicativos. Então, a partir dele, pode-se construir um aplicativo para escolher a UBS mais próxima, ou um aplicativo para escolher onde pegar um medicamento da farmácia popular da Prefeitura ou um ônibus que não esteja lotado e que chegue mais rápido”, explica Fábio. “Então vários aplicativos diferentes seriam construídos em cima dessa plataforma de uma forma mais fácil.”

No entanto, os resultados poderiam ser ainda mais abrangentes, caso houvesse um maior interesse das prefeituras em adotar as pesquisas na hora de elaborar políticas públicas. “A gente fica um pouco frustrado porque queríamos ver as prefeituras adotando”, conta Fábio. “Tem um potencial enorme e seria muito fácil implantar isso no poder público, só que não existe vontade política dos nossos governantes para tal. Eles querem algo que vai ter um resultado rápido e que seja fácil de explicar para o povo, e não um investimento a longo prazo.”

O grupo tem abordado governos e ONGs para falar da importância de utilizar a ciência como base para políticas públicas. Neste ano, a Prefeitura de São Paulo encomendou ao InterSCity um estudo para o programa Bike SP, após ver as pesquisas do grupo sobre essa via de mobilidade. Ele foi aprovado em 2016 e visa incentivar o uso de bicicletas na capital, mas ainda não saiu do papel. Com o InterSCity, o primeiro passo foi dado e o professor Fábio espera que essa compreensão da importância da ciência para o melhor funcionamento das cidades apenas aumente. “O Brasil agora já sabe como fazer. Então esperamos que algum dia isso aconteça em maior escala.”

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*