Estudo descobre influência de molécula na hipertrofia cardíaca

De acordo com pesquisadora da USP, pesquisa reforça como é importante olhar para camundongos de ambos os sexos, pois seus resultados podem ser diferentes

[Imagem de capa: Arquivo Pessoal/Tábatha de Oliveira]

“Uma perspectiva de possível tratamento: talvez possam utilizar a remoção dessa molécula, microRNAs-22, como possível medicamento [para obesidade]” – Tábatha de Oliveira Silva

Um estudo promovido pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) mapeou algumas moléculas que podem estar contribuindo para disfunções cardiovasculares causadas pela obesidade. Através dessa pesquisa, doutorandos da USP descobriram que a retirada de uma molécula específica, o microRNA-22, do corpo dos camundongos obesos atenuava os níveis de obesidade destes. Entretanto, quando o mesmo procedimento era realizado em fêmeas, elas apresentavam uma hipertrofia cardíaca, diferente dos resultados vistos em machos.

A pesquisa busca descobrir possíveis mecanismos que possam ser utilizados futuramente no tratamento de disfunção metabólica, de maneira geral. De acordo com a doutoranda do laboratório de biologia celular e anatomia funcional, Tábatha de Oliveira Silva, o estudo que eles realizam é uma pesquisa básica. “Ela [a pesquisa] tenta entender os mecanismos que estão sendo regulados, por isso, usamos camundongos. Nós mantemos esses camundongos em um ambiente que conseguimos controlar, sabemos o que eles estão comendo, o que estão bebendo, diferente do humano, que não conseguimos ter esse controle”, conta a pesquisadora sobre seu trabalho.


Os pesquisadores do ICB utilizavam o camundongo C57 para suas pesquisas [Imagem: Reprodução/iStockphoto]
O estudo demonstrou que com a remoção do microRNA-22, mesmo induzindo o animal à obesidade, ele não se comportava como obeso, tinha uma menor quantidade de tecido adiposo no organismo e uma melhora nos níveis de triglicerídeos, gorduras presentes na corrente sanguínea, e colesterol. Isso tornava o animal mais magro se comparado com o camundongo que ainda tinha o microRNA-22. Segundo Tábatha, embora a remoção dessa molécula tenha demonstrado um efeito positivo no metabolismo tanto de machos quanto de fêmeas, só o fato de removê-la sem induzir a obesidade, já promovia a hipertrofia cardíaca, mas somente no caso das fêmeas.

De acordo com a pesquisadora a maior dificuldade do estudo, e que foi o seu diferencial, residiu nas alterações de resultados entre os gêneros dos camundongos. Ainda não se sabe todas as diferenças entre o sexo masculino e feminino, mas uma dessas distinções é a questão hormonal. “A fêmea, por ela ser metabolicamente protegida [por conta dos hormônios], para conseguir induzir a obesidade, tinha que dar essa dieta rica em gordura: 60 calorias de gordura somada com leite condensado, tornando-se uma dieta hipercalórica”, narra Tábatha.

As fêmeas Wild Type – que tem o microRNA-22 no organismo -, quando tratadas com uma dieta para induzir obesidade, desenvolvem aumento do colesterol e triglicérides e desenvolvem hipertrofia cardíaca com piora da função do coração. Por outro lado, as fêmeas knockouts – que não tem o microRNA-22 -, apresentam hipertrofia cardíaca, mas sem prejuízo da função do coração. Além disso, mesmo quando alimentadas com uma dieta hipercalórica, apresentam menos massa gorda [Imagem: Reprodução/Arquivo Pessoal/Tábatha de Oliveira]
Segundo a revista científica Preventing Chronic Disease, no Brasil, há aproximadamente 168 mil mortes por ano atribuídas ao sobrepeso e à obesidade. Com a pesquisa realizada pelo ICB, é possível perceber que o microRNA-22 pode ser um aliado na diminuição do processo de obesidade. Mesmo com a questão da hipertrofia cardíaca, de acordo com Tábatha, já existem estratégias para fazer a deleção, ou seja, remoção, em um tecido específico, o que nessa situação seria a deleção do microRNA-22 somente no tecido adiposo, possivelmente, não influenciando o coração.

Foto do grupo de pesquisa coordenado pela professora Gabriela Placoná Diniz com os pesquisadores colaboradores da University of South Florida. Atrás, da esquerda para a direita: Caroline Antunes Lino, Gabriela Placoná Diniz, Da-Zhi Wang, Vanessa Lima e Juliane Braga. Na frente, da esquerda para direita: Camila Balbino, Tábatha de Oliveira Silva e Guilherme Lunardon [Imagem: Reprodução/Arquivo Pessoal/Tábatha de Oliveira]

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