Pesquisa revela efeitos da introdução da rã-touro-americana entre espécies nativas de sapos, rãs e pererecas

Considerada uma espécie exótica invasora, a rã-touro-americana foi responsável por potenciais alterações no coaxar de rãs do Cerrado

Rã-touro-americana
Rã-touro-americana [Imagem: Reprodução/Pixabay]

Oriunda do continente norte-americano e introduzida na Mata Atlântica, a rã-touro-americana (Lithobates catesbeianus) pode, à primeira vista, parecer inofensiva. Ela é conhecida, sobretudo, por seu coaxar, que se assemelha ao rugido de um touro, e também chama atenção por seu tamanho. Contudo, essa rã se trata, na verdade, de uma espécie exótica, cujo nome consta na lista das 100 espécies mais invasivas do mundo, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Dentro deste cenário,  a pesquisadora Juliana Primon, mestra pelo Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP), explorou os impactos negativos causados pelo coaxar da rã-touro em comunidades nativas de outras espécies de anuros, grupo que engloba sapos, rãs e pererecas.

Juliana Primon
Juliana Primon, do Instituto de Biociências [Imagem: Reprodução/Research Gate]
A pesquisadora analisou a invasão acústica por meio de uma simulação natural, utilizando gravações do som do animal invasor em habitats de outras espécies. “Um ponto positivo é o desenho experimental realizado. O ponto controle e experimental apresentavam características climáticas e de vegetação muito semelhantes, de forma a evitar variáveis que pudessem afetar a comunidade experimental sem ser a presença da vocalização da rã-touro. Ou seja, nossa única variável foi a presença/ausência da simulação da invasão acústica. Caso contrário, poderíamos achar alguma diferença, mas não teríamos tanta confiabilidade para ‘jogar a culpa’ na rã-touro”, explica Primon à Agência Universitária de Notícias (AUN).

Por meio do experimento foram observadas diminuições no coaxar de algumas espécies como, o sapinho-pintado (Chiasmocleis albopunctata), sapinho bicudo (Elachistocleis cesarii) e a rãzinha (Leptodactylus mystacinus). Já a rã-pimenta (Leptodactylus labyrinthicus) e a cauda-de-raposa (Dendropsophus jimi) apresentaram aumento de sua vocalização. O som produzido pelos anuros é essencial para a defesa do território e a atração de fêmeas durante a época de acasalamento.

Sapinho-pintado, sapinho bicudo e rãzinha
Sapinho-pintado, sapinho bicudo e rãzinha, respectivamente [Imagens: Reprodução/Wikimedia Commons e Lucas Rosado]

O que são Invasões Biológicas?

Ocorrem quando uma espécie animal ou vegetal é levada de sua área nativa para um novo ecossistema, onde se adapta e prolifera. Esse processo pode ser extremamente danoso para o sistema invadido, já que alterações no equilíbrio ecológico em diversas instâncias podem ser desencadeadas. “Cientificamente, é muito importante entender os efeitos de uma invasão biológica, porém é difícil medir esses efeitos em comunidades que já foram invadidas, pois não se têm dados comparativos para avaliar o estado da comunidade antes e depois”, afirma a pesquisadora.

A rã-touro foi distribuída por vários biomas ao redor do mundo devido a constituição de sua carne e subprodutos. Considerada uma refeição “refinada”, a criação desta rã foi feita de maneira indiscriminada e hoje representa uma grave ameaça para a biodiversidade da Mata Atlântica. A espécie é carnívora e se alimenta de ratos, morcegos, insetos e até mesmo de outras rãs. Além disso, a rã-touro detém uma alta capacidade adaptativa e uma só fêmea é capaz de produzir mais de 20 mil ovos. Atualmente, não existem medidas de controle de proliferação da invasora.

Sobre as perspectivas futuras do estudo, Primon deseja “aumentar o número de réplicas de pares, realizar o experimento por mais de uma estação reprodutiva e associar dados ambientais”. Além disso, a pesquisadora visa a criação de algoritmos que façam o reconhecimento automático de sons de espécies em áudios de paisagens naturais.

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