FCF-USP e Hospital Albert Einstein estudam modelos de pele artificial para o tratamento da Epidermólise Bolhosa

Convênio pode abrir precedentes para tratamentos alternativos, uso de novos medicamentos e técnicas de estudo sobre outras enfermidades da pele

Modelos de pele artificial estudados na FCF-USP [Imagem: Acervo Pessoal/Thaís Helena Moraes]
Modelos de pele artificial estudados na FCF-USP [Imagem: Acervo Pessoal/Thaís Helena Moraes]

A Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP)  firmou convênio com o Hospital Albert Einstein para estudar novas perspectivas de tratamento da Epidermólise Bolhosa Distrófica Recessiva, doença genética rara caracterizada pela formação de bolhas na pele. O convênio, que tem patrocínio do Ministério da Saúde e CNPq, está vigente desde 2020 e conta com a coordenação do Doutor Ricardo Weinlich. O novo projeto envolve o treinamento de profissionais do Hospital no Laboratório de Fisiopatologia e Toxicologia da FCF-USP, centro de referência nacional no modelo de peles artificiais.

O laboratório, coordenado pela professora Silvya Stuchi do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas, já desenvolve modelos de pele artificial há 20 anos, com foco no estudo do melanoma. As peles 3D são produzidas a partir de amostras do órgão que seriam descartadas, resultantes de cirurgias. A partir do órgão reconstruído in vitro, são realizados desde testes de fórmulas tópicas – aquelas aplicadas na superfície da pele, como pomadas e cremes – até procedimentos de edição gênica, que alteram trechos de DNA do modelo artificial para torná-la mais próxima da célula com Epidermólise Bolhosa, por exemplo. Dessa maneira, a pele 3D amplia as perspectivas de estudo e tratamento para diversas doenças genéticas de pele.

“A EB, como também é chamada, é interessante para nós porque é uma condição rara e genética, que se origina de uma mutação genômica bem definida. Então, a edição gênica é uma alternativa plausível para novos estudos”, explica a professora Silvya. A EB é causada por uma mutação no colágeno tipo 7, que compõe a matriz extracelular da pele e tem funções de sustentação e sinalização celular, formando um meio por onde circulam hormônios e outros produtos secretados por células. 

Julia Rezende da Silva, biomédica e doutoranda em Fisiopatologia e Toxicologia pela FCF-USP, explica que a mutação no colágeno 7 gera instabilidade e dificuldade de aderência entre as camadas da pele. “Por esse motivo, o órgão fica frágil e exposto a agentes externos, ou até mesmo a bactérias da flora da pele, que se proliferam causando inflamações graves. Como resultado, a pele apresenta muitas bolhas e áreas sensibilizadas”, aponta ela. A pesquisa em andamento busca construir um modelo de pele com EB ao replicar a mutação do colágeno 7, com o objetivo de mimetizar a doença e entender mais a fundo suas características. “Ao estudar e caracterizar o modelo de pele EB, poderemos testar a eficácia de diversos medicamentos, identificar biomarcadores e também acompanhar o avanço da condição no paciente.”

Hoje, os únicos tratamentos oferecidos aos pacientes da EB são paliativos e também encontram dificuldades. O doutor em Biologia Celular e Tecidual do Hospital Albert Einstein, Lucas B. Rosetti, participa do convênio entre as instituições e aponta que há muito a melhorar. “Para tratar as bolhas, usa-se curativos com cola, que podem voltar a causar um descolamento da pele e agravar o caso. Espera-se que, no futuro, os modelos de pele artificial sirvam de base para enxertos, a serem aplicados sobre a pele lesionada.” 

Para que esse potencial seja desenvolvido, a equipe de pesquisa enxerga pontos-chave de melhoria, como simular a ação do sistema imunológico sobre a pele e sua alimentação por vasos sanguíneos, além da replicação do modelo em maiores dimensões. O estudo em andamento demonstra a importância do tratamento de doenças raras, que podem culminar no desenvolvimento de novas tecnologias aplicáveis a muitos outros casos e condições no campo da saúde.

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