Estudo de moléculas bioativas amplia alternativas para o tratamento de câncer

Essas moléculas fazem parte de um arsenal de uma guerra antiga e invisível.

Foto: Pixabay

O professor titular do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, Gabriel Padilla Maldonado, coordena um time de pesquisadores que estuda o que ele mesmo concorda ser uma “guerra invisível”. Fungos, bactérias e outros microorganismos se enfrentam com armas biológicas há muito tempo, e seu arsenal tem sido crucial para desenvolver tratamentos para a medicina.

“A maior parte do nosso corpo não é nossa”, afirma Maldonado. Apenas 43% de todas as células que carregamos em nosso corpo, de acordo com ele, são realmente humanas. O restante são microrganismos, que se não estão aqui ao acaso, desempenham funções vitais, como por exemplo, a digestão.

Em meio a esse microbioma exótico, as interações de incitação e aniquilamento entre microorganismos acontecem através do que se convencionou chamar de moléculas bioativas. Um grande exemplo dessas é a penicilina, sintetizada por espécies de fungos para combater bactérias, e que agora auxiliam os humanos a fazer o mesmo. Maldonado lembra que a luta acontece dos dois lados, já que enquanto são atacadas, as bactérias se defendem usando sua grande capacidade de adaptação gênica. “O grande exemplo disso é o CRISPR”, afirma.

Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats (Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas), ou apenas CRISPR, é o sistema imunológico primitivo das bactérias, o qual é formado por pequenas porções do DNA bacteriano com capacidade de detectar e promover a eliminação de um DNA exterior, no caso de um ataque viral, por exemplo.

Uma arma com capacidade de identificar inimigos tão específicos tem a grande vantagem que leva os pesquisadores a relacioná-la com uma boa combatente contra um processo cancerígeno.

Na explicação de Maldonado, existem hoje duas estratégias fundamentais ao se tratar de um câncer. A primeira, praticada desde os primórdios da medicina, é a habitual cirurgia de remoção. Custosa e muito específica, são raros os casos em que uma cirurgia é a primeira escolha.

Já a segunda é a radioterapia ou, ainda, a quimioterapia, onde uma molécula específica para destruir a célula tumoral é guiada por fármacos a fim de atingir exatamente a região prejudicada, fazendo o mínimo de estrago possível nas células saudáveis, embora seja de conhecimento geral que os efeitos colaterais da quimioterapia são intensos.

A grande expectativa para Maldonado é que através da especificação gênica, como acontece com o CRISPR, o tratamento possa ser ainda mais certeiro nas células tumorais, cuja única diferenciação maior das demais é justamente seu código genético. “Assim como foi a penicilina, moléculas bioativas e outros sistemas de defesas de microorganismos devem ser as grandes promessas da medicina no futuro.”

Além do estudo com células tumorais, sua equipe pesquisa diversos meios de biossíntese, ou seja, de produzir moléculas bioativas como fazem os microrganismos.

A produção científica do grupo também acompanha um registro inédito de moléculas que podem se tornar muito importantes para a saúde humana nos próximos anos.

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