Robô pode compreender a linguagem de rãs

Pesquisa mostra como a tecnologia pode agir como tradutor de linguagens desconhecidas da natureza

Foto: Vinicius Caldart

Os humanos dominam suas linguagens, conseguem entender os seus diversos dialetos, idiomas e os contextos de gestos e falas, mas no que se diz respeito à linguagem de outras espécies, como latidos, miados e outros ruídos, ainda apresentamos conhecimentos limitados.

Nesse universo desconhecido, o avanço das tecnologias possibilitam que cada vez mais estudos se aproveitem de ferramentas criativas para conseguir captar novas informações da natureza. A pesquisa do laboratório SexLab, do Instituto de Biociências da USP (IB), se propôs a analisar os contextos da linguagem da espécie de rãs Crossodactylus schmidti. Para isso, um robô multimodal, que emite sinais sonoros e visuais semelhantes ao do animal, foi construído e usado como forma de avaliar o comportamento dos machos no controle territorial.

Ao colocar um robô que se passava por anfíbio no habitat, os pesquisadores conseguiram captar o significado de certos gestos dessa espécie. “Usando esse robô buscamos entender o que significa para os machos Crossodactylus schmidti o canto e o seu levantamento da pata, de maneiras isoladas”, explica Glauco Machado, um dos integrantes do estudo.  “Além disso, tínhamos outra dúvida que também colocamos à prova: se a junção desses dois sinais provocavam uma nova mensagem diferente.”

Na comunicação humana, cada sinal contém uma mensagem, assim como as diferentes modalidades têm efeitos independentes nas respostas do receptor. Falar, gesticular e o falar gesticulando são atitudes diferentes que possuem significados próprios. Machado exemplifica esse processo da comunicação que levou a curiosidade inicial dos pesquisadores: “ Caso diga algo apontando o dedo na cara de alguém, essa pessoa pode só estranhar a situação. Agora, o ato de xingar uma pessoa produz uma resposta raivosa dela. No entanto, isso provavelmente não será suficiente para desenvolver um conflito. O combate tende a ficar mais eminente na situação de um xingo acompanhado do dedo na cara”.

Os resultados do estudo podem ser aproximados a analogia. O gestual isolado dos robôs fez com que a mensagem não atingisse uma reação direta dos animais. No momento em que o equipamento emite um canto, foi perceptível uma batalha de sons entre diferentes machos. “Quando as rãs machos cantam, geralmente se anuncia aos demais a posse territorial da pedra. Então, quando o robô começou a cantar perto do território, os animais reagiam cantando para ele”.

O conflito de fato se deu na junção das duas modalidades, do gesto da pata com o som. “Quando o robô faz os dois sinais, o acústico e o visual, a mensagem muda de sentido, os territorialistas ficam muito mais agressivos e partem para briga, se jogavam em cima do robô”, conta o pesquisador. Assim sendo, tal qual a humanidade, a conjunção dos sinais pode tornar uma situação mais violenta.

A percepção da língua das rãs machos se deu por uma tecnologia que se mostrou como ferramenta capaz de decodificar mensagens ocultas que estavam na natureza, de simular discursos deles e traduzi-los tanto qualitativamente como quantitativamente. O uso de técnicas similares apresenta uma possibilidade de expansão do potencial humano, podendo revolucionar o que se nota na natureza.

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