Projeto de extensão da EEFE aponta o esporte como alternativa a quem lutou contra o câncer de mama

por Pedro Fagundes

[Imagem: Reprodução/Instagram]

Com o passar dos anos, o tratamento oncológico tem se tornado cada vez mais eficiente. No entanto, não raramente, sua atuação gera sequelas, as quais tendem a fragilizar a vida dos pacientes. Realizado por meio de uma parceria entre Instituto de Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), o Centro de Práticas Esportivas da USP (CepeUSP) e a Escola de Educação Física e Esporte (EEFE), o Remama é um projeto de extensão que procura oferecer o exercício como meio de reabilitação. Tudo isso, em cima de canoas.

Origem do programa

Criado em 2013, pela doutora fisiatra, Christina May Moran de Brito, o projeto se inspirou no pioneiro “Abreast In A Boat”, do médico esportivo canadense, Don McKenzie. Sua motivação foi combater efeitos maléficos decorrentes do tratamento do câncer de mama. “À época, a prática de atividades físicas era — equivocadamente — contraindicada a quem passava pela medicação. Todavia, McKenzie decidiu apoiar-se na ciência e promover o contrário”, explica Patrícia Brum, professora titular de fisiologia do exercício da EEFE.

A partir de algumas conversas com o canadense, Christina resolveu adaptar o movimento estrangeiro e dar origem ao seu projeto: o Remama. Com fortes vínculos ao Icesp, o intuito foi o de atender os seus pacientes durante a fase de remissão da doença. Atualmente, a ação promove o treinamento de canoagem a 42 pessoas, com a intenção de fomentar a qualidade de vida e auto-estima.

Inclusão da pesquisa

No ano de 2017, o projeto de extensão ganhou dois novos braços: a pesquisa e o ensino. A integração da EEFE ao programa ocorreu por meio de Patrícia, que pôde ampliar os horizontes do Remama com fornecimento de insumos voltados a sua plena realização. “Com a prerrogativa de trazer a pesquisa para o centro do programa, demos início a uma parceria onde meu papel seria somar o embasamento teórico à prática incentivada pela doutora”, ressalta.

O Remama tornou-se um ponto de encontro entre os três pilares por trás da Universidade: ensino, pesquisa e extensão. Nele, alunos da graduação atuam como instrutores, discentes de mestrado, doutorado e pós doc realizam pesquisas e o projeto em si exerce o papel de extensão à faculdade — pois funciona à parte da graduação.

Divulgação científica

Essa parceria entre extensão e pesquisa é essencial para se criar, nacionalmente, um repertório capaz de embasar o impacto da atividade física no tratamento de pacientes oncológicas. Caso recorra a outras áreas da saúde, a literatura já comprova a eficiência da prática de exercícios físicos para a recuperação de um bom estilo de vida. Logo, a função do Remama é olhar para essa base de dados — aceita pela comunidade científica — e questionar: porque isso não seria válido para quem já sofreu com o câncer de mama?

A falta de divulgação é um dos principais inimigos do esporte perante esse cenário. A maioria dos oncologistas não sentem-se seguros para encaminhar seus pacientes à realização de exercícios físicos. “Tratamos, portanto, de algo próximo a uma quebra de tabu. Hoje, 90% das mulheres que vencem o câncer de mama sobrevivem nos próximos cinco anos. Logo, é fundamental investir na mudança de hábitos a fim de reduzir seus riscos, controlar efeitos colaterais e, claro, promover uma vida digna”, pontua a professora.

RemamaOn: fruto pandêmico

Durante a pandemia, foi realizado um inquérito a fim de analisar os impactos do confinamento na periodicidade de atividades físicas para as mulheres afetadas pelo câncer. Conforme a análise, 90% de quem participava regularmente do programa diminuiu consideravelmente ou parou com os treinos.

Ainda segundo o levantamento, a inatividade física resultou em um aumento médio de massa equivalente a 15kg. Por se tratarem de dois fatores capazes de agravar um quadro cancerígeno, essa interrupção preocupou a toda equipe do projeto, que buscou alternativas para reverter a situação.

Foi a partir desse temor que surgiu a iniciativa do RemamaOn. Com atividades on-line nas segundas e quartas-feiras, o modelo veio para ficar. Com mais de 180 aulas realizadas, trabalha-se um pouco de tudo, como o condicionamento, equilíbrio e atividade aeróbia. “Em completude, ficamos ao lado para a coleta de dados com relação à adesão, capacidade física e qualidade de vida”, finaliza.

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