Medidas sustentáveis no cenário empresarial não trazem benefícios significativos

Imagem: Reprodução Pixabay

A pesquisa de doutorado realizada por Vinicius Loureiro pela Faculdade de Economia, Administração e Atuária (FEA) da USP da mostrou que a adoção de práticas sustentáveis no âmbito empresarial aumenta o custo de produção de capital, mas em contrapartida não gera mais lucros por isso. O resultado demonstrou que os discursos de investidores em prol do meio ambiente não saem tanto da teoria

Estudo revelou que o emprego da sustentabilidade em empresas pode acarretar prejuízos financeiros e barrar o crescimento de pequenas empresas

O estudo focou em analisar como o mercado anda lidando com empresas que possuem um perfil mais sustentável, e como isso se reflete no retorno de ações, de forma direta ou indiretamente. Para isso, 6.929 mil empresas, de 82 países diferentes, foram observadas. 

A pesquisa analisou as empresas com base no índice de sustentabilidade da Refinitiv — empresa fornecedora de dados e infraestrutura para o mercado financeiro — de 2011 a 2021. O período foi escolhido para analisar o cenário cinco anos antes, e cinco anos depois de 2016, ano que ficou marcado pela intensificação dos discursos de gestores para sustentabilidade. 

E apesar de ter ocorrido uma evolução na quantidade de empresas avaliadas pelo índice, 3 mil empresas em 2011 para 7 mil em 2020, o empenho sustentável dessas não apresentou mudanças significativas, como demonstrou o estudo.

De forma direta, a adoção de práticas sustentáveis gera um aumento no custo de produção que não é revertido nos lucros, sendo desvantajoso financeiramente para as empresas. Segundo o pesquisador, até certo ponto o aumento da sustentabilidade reduz a quantidade de recursos utilizados no processos de produção, mas depois passa a não fazer mais efeito.

“A partir desse ponto você começa a ter um custo para ser mais sustentável porque você precisa investir em novas  tecnologias, contratar pessoas mais especializadas, ter investimentos essenciais, e isso gera custos para as empresas”, comenta Vinicius.

“O investidor vai fazer um discurso bonitinho sobre sustentabilidade e vai receber um fluxo maior de capital para investir. Mas no fundo, se esse capital não for adequadamente remunerado ele vai procurar outro empresário que traga mais rentabilidade”, complementa.

Além disso, para empresas pequenas ou startups, essa  restrição de capital é um fator que atrapalha o crescimento a longo prazo, e o surgimento de novas empresas “Quando você coloca em evidência uma prática sustentável que tem um custo maior você limita o crescimento dessas instituições e o desenvolvimento de empresas de países em desenvolvimento”, explica o pesquisador.

Dessa forma, segundo Vinicius, ocorre uma concentração das estruturas de poder. Somente empresas já desenvolvidas, ou instaladas em países desenvolvidos conseguem arcar com os preços para adoção de práticas sustentáveis.

“Se você for observar pesquisas, o consumidor sempre quer um produto mais sustentável. E aí quando você pergunta quanto ele está disposto a pagar mais por isso ele fala que não pode pagar mais”.

Por outro lado, o que foi identificado no estudo que incentiva o aumento de práticas sustentáveis é a postura dos governos. Quando o governo é ativo nas questões ambientais, com a implementação de legislação e fiscalização, maior é a chance das instituições aderirem esses comportamentos. Isso força todas as empresas a atuarem sobre os mesmos princípios e competir em níveis iguais.

Para isso, o pesquisador também comenta como é importante que essas regulamentações sobre sustentabilidade sejam globais, pois se as regras de um país para outro forem diferentes os custos de sustentabilidade serão diferentes e isso provocaria um desequilíbrio competitivo.

No entanto, o aumento de custo pela adoção de medidas sustentáveis não é absorvido igualitariamente. “Ele é mais facilmente absorvido pelas empresas de países desenvolvidos que, socialmente falando,  já estão em um outro patamar”, expõe o doutorando.

Empresas localizadas em países em desenvolvimento possuem preocupações mais urgentes, como a questão da sobrevivência e da fome. “Primeiro você precisa fornecer  condições de existência básica para depois poder falar em sustentabilidade ambiental. Quem não sabe se vai ter o que comer amanhã não está preocupado se vai viver daqui a 40 anos”, continua.

Por esses motivos, Vinicius explica que dificilmente governos de países em desenvolvimento tomarão medidas que ampliem de forma significativa a sustentabilidade porque isso pode colocá-los em uma posição de desvantagem competitiva internacional. As empresas não conseguiriam prosperar, e os impactos sociais seriam grandes. “Aí teremos um aumento no desemprego, um aumento nos custos sociais e isso vira uma bola de neve.”

O pesquisador confessa que isso tudo forma um cenário muito complexo em torno das necessidades urgentes do planeta e das necessidades locais de desenvolvimento: “Sustentabilidade sempre vai ser positiva, preservar o meio ambiente, mas precisamos incentivar o desenvolvimento social também, e não podemos ignorar que tudo isso tem um custo.”

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