O efeito da diplomacia na captação de investimento estrangeiro no Brasil

Pesquisa do Instituto de Relações Internacionais retoma a história diplomática do país nos últimos 30 anos e observa os impactos no setor econômico causados pelas relações internacionais.

Reprodução: Ramon Buçard/Unsplash

O mestrado de Rafael Soares Torres, desenvolvido no Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP) discute o efeito da diplomacia na captação de investimento estrangeiro no Brasil, por meio de uma análise de vetores autorregressivos.

O pesquisador conta que a motivação para a escolha do tema foi um discurso do ex-ministro das relações exteriores, José Serra, logo depois que Michel Temer assumiu a presidência em maio de 2016, em que declarava que a política externa do governo a partir daquele momento seria diferente, implicando que investir em países “menos importantes” não valia a pena. “Eu me perguntei na época se era um pensamento que fazia sentido. Isto é – investir em diplomacia é algo que se paga, ou é jogar dinheiro fora em nome de imagem e de status? Quando eu decidi fazer o mestrado em RI, eu quis responder a essa pergunta de alguma forma”, revela Torres. 

A retomada da história da política externa brasileira e da história econômica do país dos últimos trinta anos, em conjunto com modelagens de vetor autorregressivo (VAR) e de vetor de autocorreção (VEC), busca revelar se os esforços de política externa do Brasil tiveram impacto mensurável na entrada de investimento externo direto. 

“Vetor autorregressivo (VAR) é uma técnica de econometria de séries temporais. Em uma série temporal você testa se uma variável tem impacto em outra depois de alguns períodos. Um VAR assume que todas as variáveis influenciam as outras, que é o que eu espero que aconteça com variáveis econômicas, como PIB, inflação e taxa de juros, e (o que eu queria testar), orçamento do Ministério de Relações Exteriores (MRE), número de funcionários, etc”, explica o pesquisador. “Um vetor de correção de erro assume que existe uma relação de longo prazo entre essas variáveis, e alguns componentes estatísticos são adicionados para levar essa relação em conta”, explica Torres

Rafael conta que os resultados da pesquisa foram, de certa forma, os esperados no início do estudo: a expectativa de que o crescimento do orçamento do MRE, do número de funcionários do ministério, ou do orçamento da Agência Brasileira de Cooperação (ABC) surtiria um impacto positivo na captação de investimentos foi confirmada. Entretanto o pesquisador ressalta que os resultados obtidos existem dentro de algumas restrições, uma vez que Torres não levou em consideração a variação de capital internacional disponível no resto do mundo, assumindo que sempre existe capital, o que não é sempre verdade. 

Em relação a atual situação da diplomacia brasileira, o pesquisador declarou que “O atual governo tem uma prioridade diferente em termos de política externa, comparado aos governos anteriores. Desde o Fernando Henrique, indo até o Temer, todos os presidentes que analisei no meu trabalho usaram a ideia de desenvolvimento econômico como motriz de política internacional – algo que o atual presidente não fala a respeito”, explica. 

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