Agrotóxicos reduzem em cinco vezes as chances de sobrevivência das abelhas

Estudo produzido no Laboratório de Síntese Ecológica da USP analisou os efeitos desses compostos nas abelhas

O uso de agrotóxicos interfere na polinização e pode contaminar a colônia de abelhas - Foto: Pxhere/Domínio Público

As abelhas são insetos fundamentais para produção agrícola por conta da polinização de plantas, que consiste na transferência de grãos de pólen, produtores do gameta masculino, até o gameta feminino, permitindo a formação de frutos e sementes. Sendo os principais polinizadores dos cultivos agrícolas, as abelhas são essenciais para a biodiversidade e segurança alimentar. A intensificação das práticas agrícolas é uma resposta para o aumento da demanda de alimentos. Entre as práticas adotadas, destaca-se o uso de agrotóxicos, que ameaçam o trabalho e a vida das abelhas.

Em seu mestrado realizado no Laboratório de Síntese Ecológica do Instituto de Biociências (IB) da USP, Cristina Kita avaliou os impactos dos agrotóxicos em comunidades de abelhas. A pesquisadora analisou os efeitos letais, subletais e as consequências para as comunidades localizadas em lavouras. O estudo foi feito a partir da coleta de dados de diversos artigos envolvendo o impacto dos agrotóxicos sobre essa categoria de insetos. O método utilizado foi a meta-análise, que consiste no cálculo da média dos resultados obtidos para encontrar o tamanho de efeito dos agrotóxicos.

Para efeitos subletais, os resultados encontrados mostraram que apesar das abelhas não morrerem, o trabalho delas foi agravado. “Elas não vão conseguir forragear, ou seja, buscar alimento de forma eficiente. A polinização também pode ser prejudicada. Existem algumas espécies de abelhas que realizam um tipo de polinização bastante especializada. É uma polinização em que a abelha tem que ir até a flor e vibrar. Quando está contaminada pelo agrotóxico, ela não consegue fazer isso, então a polinização se torna ineficiente”, explica.

Nesses casos, os agrotóxicos causam problemas na vida e na mobilidade das abelhas. Já para os efeitos letais, a pesquisadora avaliou a probabilidade de sobrevivência desses insetos e concluiu que os pesticidas reduzem em cinco vezes suas chances de sobreviver. Tanto os efeitos subletais quanto letais foram coletados a partir de estudos feitos com abelhas em laboratórios, o que trouxe uma descoberta interessante após comparação com os dados encontrados sobre as abelhas nas lavouras

Nas abelhas presentes no campo, os efeitos encontrados não foram tão fortes em comparação com as outras análises. “Uma questão que levantei a respeito disso é que a quantidade de vegetação na paisagem da lavoura está influenciando nos efeitos do agrotóxico. A diversidade de recursos para as abelhas nas paisagens pode fazer com que as consequências dos agrotóxicos sejam menos intensas.”

Por isso, Cristina afirma que preservar a vegetação no entorno das lavouras é muito importante para a sobrevivência das abelhas. “Não foi apresentado um efeito tão forte quanto no laboratório porque as abelhas do laboratório estão isoladas e o agrotóxico é aplicado diretamente nelas. No campo, tem outros recursos para as abelhas. A vegetação pode oferecer pólen, néctar e materiais usados para construir os ninhos, então as abelhas não vão estar expostas o tempo todo.”

As dificuldades encontradas para extrair os dados necessários motivaram a pesquisadora a elaborar dez regras simples para relatar dados sobre interação entre espécies. Cristina informa que vários trabalhos foram descartados da análise por não conterem as informações que ela buscava. “Às vezes, os pesquisadores só reportavam o efeito que interessava para eles. Nos artigos, é muito comum só divulgarem o valor de p, uma probabilidade que indica se o resultado é estatisticamente significativo ou não.” A ideia é fazer com que os futuros trabalhos sejam mais reprodutíveis e transparentes.

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