Atração turística em Minas Gerais é importante área de pesquisa para arqueologia brasileira

Com diversos sítios arqueológicos e pinturas rupestres, local é importante para estudo do modo de vida de populações antigas

Sítio arqueológico Lapa Piolho de Urubu, Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, Minas Gerais. [Autor: Daniel Menin]

O Parque Nacional Cavernas do Peruaçu se localiza na cidade de Januária, Norte do Estado de Minas Gerais. Sua paisagem chama a atenção por conta das cavernas grandiosas — que podem chegar até 20 quilômetros de extensão —, estalactites de quase 30 metros e águas cristalinas que banham a região. Mas, para além de suas belezas naturais, o parque é também fonte de diversas pesquisas arqueológicas.

Desde 2019, o Laboratório de Arqueologia e Antropologia Ambiental e Evolutiva (LAAAE) atua no Vale do Peruaçu. O LAAAE surgiu da parceria entre o Instituto de Biociências (IB) e o Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE), ambos da USP. “Temos vários projetos no momento, o principal é a criação do laboratório de arqueogenética”, diz Eliane Chim, pesquisadora com bacharelado em arqueologia pela Universidade Federal do Rio Grande (FURG) e, atualmente, doutoranda na área no MAE. 

O início das pesquisas se deu através de um projeto de Francisco William da Cruz Júnior, professor do Instituto de Geociências (IGc) da USP, e André Strauss, professor do MAE, financiado pela Fapesp, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, em colaboração com a National Science Foundation. “Ele [Francisco William da Cruz Júnior] trabalha com o Paleoclima no Holoceno e isso tem tudo a ver com as ocupações humanas, porque o clima está mudando. No Holoceno Médio tiveram mudanças climáticas severas e as pessoas continuavam morando lá”, conta Eliane. “Então, ele pensou: ‘Não tem como trabalhar com Paleoclima do Holoceno sem ter uma interlocução com arqueologia’. Assim ele começou a colaboração com meu orientador, o André Strauss.”

A pesquisa arqueológica no Vale do Peruaçu, no momento trabalha em duas frentes: uma delas busca fazer a cronologia das pinturas rupestres por meio do método de datação Urânio-Tório. Segundo Eliane, esse método é normalmente utilizado para datar carbonato de cálcio em relevos cársticos – relevos formados pela dissolução química das rochas que originam cavernas –, porém foi possível aplicar às artes rupestres. “A gente ainda não estuda a questão simbólica e o que são as representações.”

Lapa dos Desenhos, Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, Minas Gerais. [Reprodução: acervo do MAE-USP]
A segunda frente da pesquisa é a escavação da Lapa do Boquete e o reconhecimento de outros sítios arqueológicos na área do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu. Existem mais de 125 sítios arqueológicos dentro do parque e o grupo de pesquisa de Eliane atua em cinco deles.

A Lapa do Boquete é um sítio arqueológico que foi escavado nas décadas de 80 e 90, por uma missão francesa, em colaboração com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Eles deixaram a escavação aberta, então o nosso projeto foi de revisitar esse sítio e conseguir coletar amostras para análises modernas nesse perfil que estava exposto.”

Sítio arqueológico Lapa do Boquete [Reprodução: acervo do MAE-USP]
Por meio dessas pesquisas no Vale do Peruaçu, a doutoranda busca estudar as transformações nos modos de vida durante o Holoceno — período que começou há 11.700 anos. “Isso inclui a transição do forrageio, ou seja, a caça e a coleta para a produção de alimentos. Nesse momento, houve também o surgimento da arte rupestre, as pessoas que ocupavam mais os abrigos rochosos passaram a ocupar lugares a céu aberto.”

O primeiro artigo da tese de Eliane Chim gerado a partir de resultados da pesquisa contará sobre os processos de datação de artes rupestres. As pesquisas nos sítios arqueológicos continuarão pelos próximos dois anos e ela espera obter mais informações e resultados para a publicação de novos artigos.

O nosso projeto com a Fapesp acaba esse ano, mas conseguimos obter outro financiamento com o ICMBIO [Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade]. Então, a gente continua no Peruaçu por mais alguns anos. Espero continuar para sempre”.

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