Fósseis de animais marinhos foram encontrados no interior da Floresta Amazônica

Análises revelam que esses organismos foram trazidos pelas águas dos mares através de invasões marinhas que aconteceram entre 23 e 5 milhões de anos

Concha de molusco fóssil encontrada em sedimentos antigos expostos nas margens do rio Solimões no oeste da Amazônia brasileira [Imagem: Reprodução/Revista Fapesp]

Um estudo publicado em abril deste ano pela revista Pesquisa Fapesp indica que fósseis de animais marinhos, como conchas de moluscos e crustáceos, que foram encontrados em sedimentos a vários metros de profundidade do subsolo na Floresta Amazônica, possuem origem no Mar do Caribe. A análise, intitulada Resquícios do mar no interior  da Amazônia, foi feita por um grupo de pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) com o apoio de equipes de outras instituições e do CNPq e concluiu que esses organismos chegaram até a região, onde hoje há a floresta, por meio de alagamentos marinhos.

As amostras estudadas pela equipe foram coletadas em perfurações realizadas na década de 70 para exploração de carvão mineral, na Bacia dos Solimões, a oeste do estado do Amazonas, e na Bacia do Acre. De acordo com o grupo de pesquisadores, as águas caribenhas invadiram a Floresta Amazônica no período geológico conhecido como Mioceno, entre 23 e 5 milhões de anos atrás.

Em entrevista à Agência Universitária de Notícias (AUN), o geólogo André Oliveira Sawakuchi, pesquisador do Instituto de Geociências (IGc-USP), explica que essas invasões caribenhas no continente sul-americano ocorreram porque, no período miocênico, ainda não tinham se formado algumas montanhas no noroeste da América do Sul, como a Cordilheira de Mérida, que hoje, barram as águas do mar: “Quando o nível do mar aumentava, o oceano conseguia entrar dentro do continente formando uma espécie de golfo. Essa seria a rota de invasão do mar do Caribe no Oeste da Amazônia.” 

Embora as análises feitas pela equipe assegurem que esses resquícios coletados tenham origem nas invasões caribenhas, Sawakuchi destaca a dificuldade de garantir se os microfósseis encontrados onde hoje há a floresta sejam de animais que viviam no mar ou em ambientes de água continentais salgadas: “Não é porque o organismo é adaptado a ambientes de água salgada que ele necessariamente veio do mar.” Segundo o docente, também existem lagos de águas salgadas e esses organismos encontrados podem ter se originado neles. 

Contudo, Sawakuchi não descarta a possibilidade de ter ocorrido uma invasão marinha no interior da Amazônia: “Há outros fósseis encontrados, como fragmentos de dente de tubarão e uma espécie de camarão, que seriam evidências mais seguras de organismos marinhos e que atestaram, pelo menos, uma invasão do oceano na Amazônia.” 

Outra prova incontestável da influência marinha na Amazônia é a presença de animais aquáticos amazônicos (de água doce) que têm ancestrais marinhos (de água salgada). Dois exemplos disso são o boto-cor-de-rosa, ancestral dos golfinhos, e as arraias de água doce, vindas das arraias marinhas, ambos presentes em todos os rios.

Na primeira imagem, um boto-cor-de-rosa; na segunda, um golfinho; na terceira, uma arraia de água doce e na quarta, uma arraia marinha [Imagem: reprodução/Superinteressante-Abril; pixabay e wikipédia]

Origem e evolução da biodiversidade

Um dos responsáveis pelo novo projeto Trans-Amazônia Drilling Project (Projeto de Perfuração Transamazônica), que conta com a participação de pesquisadores de 12 países, o professor salienta que o estudo ajudará a compreender a evolução da floresta, dos organismos e do rio Amazonas. Sobre o projeto, que ainda está nas fases iniciais, ele explica: “Serão feitas perfurações de até 2000 metros de profundidade que vão permitir que nós possamos coletar amostras de períodos anteriores à existência da Amazônia. Vamos conseguir reconstituir o que existia antes da floresta, descobrir quando a Amazônia se formou e como ela evoluiu até chegar no bioma megadiverso do tempo presente”. 

As perfurações serão duas, uma no Acre e outra no leste do Pará e terão início no mês de junho. Elas poderão contribuir para o conhecimento de outras possíveis invasões marinhas na região que hoje é a Floresta Amazônica.

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