Pesquisas da USP revelam a cor dos dinossauros

Coordenados pelo Instituto de Geociências, estudos buscam em estruturas fossilizadas proteínas que indiquem a cor dos animais extintos

Réplica fóssil de um dinossauro, exposta no saguão de entrada do Instituto de Geociências (Foto: Reprodução/ Acervo do Instituto de Geociências da USP)

Por Maria Beatriz Barros – mabi.barros.s@gmail.com

Extintos há milhares de anos, os dinossauros habitam o imaginário popular como os “répteis gigantes” que devoravam seres humanos. Além de não ter coexistido com os homens, a espécie é comumente retratada em tons esverdeados, muito pela sua similaridade aparente com jacarés e outros animais do gênero. Todavia, o Instituto de Geociências (IGc) da USP junta-se a outras universidades ao redor do mundo em uma pesquisa pioneira, que busca revelar a verdadeira cor dos dinossauros — e já descartaram o verde.

Gustavo Prado, estudante de mestrado do professor Setembrino Petri, explica: “A cor desses animais depende do tipo de preservação do tegumento análogo a pele, bem como do formato dos melanossomos (células que abrigam a melanina, substância da cor), da presença ou ausência de tais estruturas, sua localização no corpo, e do ambiente em que os animais viviam”. Até o momento, a pesquisa revela que a coloração dos dinossauros é restrita ao preto, vermelho, marrom e ao iridescente — fenômeno óptico que faz certos tipos de superfícies refletirem as cores do arco-íris.

Como descobrir a cor?

A coloração dos dinossauros era restrita à melanina, a proteína da ordem bicroma que dá cor aos tegumentos. Além de ser o tipo mais comum nos seres vivos e um composto quimicamente estável, ela melhor resiste às mudanças geoquímicas durante o processo de fossilização, quando comparada a outras moléculas bicroma. Assim como nos animais de hoje, em fósseis a melanina também é encontrada em ultraestruturas nanométricas (entre 200 à 2.000 nm) preservadas em 3D ou em moldes, chamadas de melanossomos, organelas nas quais a melanina é sintetizada e depositada.

Gráfico dos melanossomos preservados (Foto: Gustavo Prado)

A capacidade de absorver e espalhar luz dessas estruturas varia de acordo com a sua forma geométrica, que obedece o tipo de melanina produzida e depositada. “Os melanossomos esféricos, em geral, conferem tons avermelhados, acastanhados e até amarelados; já os oblados (em formatos de “salsichas”), conferem cores escuras como o preto e azul, além de também produzir as cores iridescentes (cores estruturais ou fotônicas)”, descreve Prado.

“Já a ausência de melanossosmos em estruturas fósseis indica que os tegumentos possuíam cores nos tons acinzentados, esbranquiçados, ou eram compostas de outros tipos de pigmentos.”

Preservação dos tegumentos

Tegumento engloba peles, penas, pelos, cabelos e tudo aquilo presente na superfície dos organismos eucariontes (a maioria dos seres vivos, a exceção de microbióticos e certas algas). Devido a sua fragilidade, tais fragmentos não são encontrados em registros fósseis, a não ser em condições extraordinárias. Segundo Prado, a preservação de um tegumento varia de acordo com o contexto geológico, apesar dos processos preservacionais serem, normalmente, similares.

“A preservação no registro fóssil é um processo majoritariamente físico-químico e, dependente de diversas condições ambientais (por exemplo, taxas de deposição, níveis de pH, pK, Eh e de oxigênio, entre outros)”, explica o geólogo. Dentre os referidos fatores, Prado aponta a ausência ou escassez de decomposição como o principal. Na maior parte dos casos, ele explica que a variável é controlada pela falta de oxigênio, que retarda a degradação por micro-organismos autotróficos além de inibir a ação de animais necrófagos.

Também, a mineralização — ou transformação em fóssil — precoce é um importante mecanismo para a preservação de tegumentos. Segundo o pesquisador: “a rocha envolvente também pode atuar na manutenção das moléculas originais, “isolando” a matéria orgânica do ambiente, como é o caso dos biomarcadores e dos pigmentos naturais, como a melanina”.

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