Filiação partidária de governadores pode interferir no recebimento de investimentos estrangeiros por um estado

Pesquisa mostra que eleição de governador filiado a partido pró-trabalhista reduziu os investimentos estrangeiros em Minas Gerais

Quando comparados os governos de Antonio Anastasia (PSDB) e Fernando Pimentel, em Minas Gerais, nota-se que os investimentos estrangeiros diretos recebidos pelo estado se alteram juntamente à mudança de partido dos governadores. [Imagem: Emanuely Benjamim]

A relação de Investimento Estrangeiro Direto (IED) é estabelecida quando o investidor de uma economia estrangeira tem poder de 10% ou mais em empresas de outra nacionalidade. Quando em nível subnacional, no qual se direcionam às unidades federativas de um país, eles podem ser estimulados, ou não, de acordo com as políticas adotadas pelo governador de determinado estado. Em Minas Gerais, por exemplo, nota-se a diminuição dos investimentos após a transição do mandato de Antonio Anastasia (PSDB) para Fernando Pimentel (PT).

Na dissertação de mestrado Investimentos Estrangeiros Diretos: impacto da filiação partidária na alocação subnacional brasileira de investimentos, orientada pelo professor Pedro Feliú e defendida no Instituto de Relações Internacionais da USP, Julia Coury compara os investimentos estrangeiros recebidos por Minas Gerais entre 2011 e 2016 para avaliar a influência da filiação partidária dos governadores em seu recebimento.

O caso de Minas Gerais

Os IED correspondem à possibilidade de instalação de filiais ou unidades de produção em um país estrangeiro, a exemplo das multinacionais. A partir deles, o investidor se envolve na gestão da empresa e espera obter benefícios como lucro e participação em seus resultados. De acordo com Julia Coury, “eles também podem trazer conhecimento técnico, expertise gerencial e acesso a mercados internacionais, o que pode ajudar a empresa a se desenvolver e expandir”. 

Fatores como a estabilidade política, infraestrutura, mercado consumidor e regime tributário atrativo podem interferir na ocorrência de investimentos estrangeiros diretos em nível nacional, tornando um país mais atrativo que outro. De acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, esses recursos são direcionados a setores como o agronegócio, indústria automobilística, eletrônica e tecnologia da informação.

A alocação subnacional dos investimentos estrangeiros diretos também envolve uma série de condições, com destaque para a atuação dos governadores no que diz respeito ao estímulo ao recebimento desses recursos. Tendo isso em vista, a filiação partidária dos políticos que ocupam tal posição, ao influenciar em seu plano de governo, pode interferir no recebimento de IED pelo estado. “Os governadores de um estado podem adotar algumas políticas para atrair novos investidores, como oferecer incentivos fiscais, simplificar processos burocráticos, investir em infraestrutura e fornecer um ambiente de negócios favorável”, aponta a pesquisadora. 

Em sua pesquisa, Coury compara os investimentos estrangeiros recebidos por Minas Gerais nos períodos entre 2011 e 2016, correspondente aos mandatos de Antonio Anastasia (PSDB), eleito em 2011, e Fernando Pimentel (PT), eleito em 2014. Anastasia era filiado a um partido pró-empresarial, conhecido por adotar políticas favoráveis a investidores, e seu mandato foi caracterizado pelo aumento contínuo dos IED em território mineiro. 

Pimentel, por outro lado, adotou medidas contrárias ao governante anterior, reduzindo os incentivos fiscais e encerrando a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, resultando na diminuição dos IED no Estado. “Políticas adotadas por diferentes governos podem ter impactos variados na atração de investimentos, dependendo do contexto econômico, das políticas implementadas, da imagem do país ou Estado, das condições globais de mercado, entre outros aspectos”, explica a pesquisadora.

Gráfico, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), mostra que o fluxo de Investimentos Estrangeiros Diretos no Brasil se manteve acima da média entre 2011 e 2014, com um aumento notável entre o terceiro e quarto trimestre de 2013, quando atinge a marca de US$20 bilhões, e três quedas entre 2012 e 2014. A partir dos dados, percebe-se que os IED em nível nacional permaneceram estáveis durante os mandatos de Anastasia e Pimentel em Minas Gerais. [Imagem: Reprodução/ IPEA]
Quando questionada sobre os impactos que as políticas referentes a investimentos podem exercer sobre outros aspectos do governo, Coury aponta que eles refletem nos recursos disponíveis para aplicar em outros setores da sociedade. Por exemplo, a redução de taxas pode afetar a arrecadação de impostos, o que pode impactar os recursos disponíveis para investimentos em áreas como saúde, educação e infraestrutura.

Os IED em nível global

Ao promover a interação entre duas nações, os IED caracterizam uma das manifestações econômicas da globalização, que envolve a integração política, financeira, social e cultural. Isso ocorre pois, quando uma empresa investe em fábricas ou participação acionária de território estrangeiro, é desenvolvida uma relação de interconexão e interdependência econômica entre os diferentes Estados.

Apesar de seus pontos positivos para a economia local, a participação elevada destes investidores pode acarretar em dependência financeira. “Os investimentos estrangeiros diretos podem impulsionar o crescimento econômico, gerar empregos, transferir tecnologia e promover a modernização dos setores produtivos”, explica a pesquisadora.

Ela ainda aponta que uma mudança no ritmo dos IED tem impactos na estabilidade econômica do país, pois uma diminuição significativa desses investimentos pode afetar negativamente o crescimento econômico, o emprego e a entrada de divisas.

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