Estudo da Antiguidade ajuda alunos do ensino médio a pensar o presente

Tese de doutorado da FEUSP investiga a formação da consciência histórica e política em alunos do ensino médio a partir do estudo da Antiguidade

[Imagem: Chen Yancey/PxHere]

Dentro do currículo escolar básico brasileiro, a democracia grega e a República Romana são assuntos de destaque, justamente por introduzirem as bases políticas que são utilizadas em grande parte do Ocidente. Mas como os alunos enxergam o passado dessas civilizações e entendem o presente?

A tese de doutorado, “Interpretando o tempo em sala de aula: ensino de História Antiga”, do professor Alessandro Gregori, apresentada à Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP), busca, a partir de uma pesquisa de campo, responder essas perguntas e analisar como a consciência histórica se forma em alunos do ensino médio dentro das salas de aula.

Metodologia da pesquisa

Gregori é professor do ensino básico há mais de 10 anos e trabalha com a temática greco-romano. Ele começou sua pesquisa em duas escolas do Grande ABC: um colégio particular de um bairro de classe média alta de Santo André e uma escola pública, no centro de São Bernardo do Campo, e ocorreu durante o período de 2018 e 2019, anos em que aconteceram as eleições presidenciais e a instalação do novo governo, respectivamente.

Ele encaminhou uma série de perguntas para que os alunos dessas escolas respondessem. “As perguntas colocavam lado a lado textos do passado e textos do presente”, conta. O professor optou por temas políticos em alta na época da pesquisa, como a “democracia” e as “lutas sociais”. Em um dos questionários, destacou dois textos a respeito do romano Tibério Graco sobre a proposta de reforma agrária romana. “Peguei esses trechos e pedi para os alunos compararem a autores do presente que falam da mesma temática das lutas sociais. Um era do Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, que fazia uma defesa da questão da terra e outro do ex-presidente Lula, sobre o bolsa-família”. Junto a isso, também foi feito um questionário socioeconômico que avaliou de que meios esses adolescentes vinham.

A partir das respostas, Gregori percebeu que os alunos tendem a idealizar o antigo e depreciar o presente. Ele explica que, para os alunos, a democracia é vista de maneira similar tanto na Antiguidade quanto no presente e, apesar da democracia grega ser uma democracia que possuía interdições – como as mulheres que tinham poucos direitos na sociedade –, ela era mais justa, pois os gregos se interessavam mais por política e lutavam por aquilo que queriam. Enquanto, no Brasil contemporâneo, a política é marcada pela criminalidade, segundo esses estudantes.

“Mesmo sabendo que os autores [do passado] escolhidos são de círculos privilegiados, os alunos têm a tendência a falar que parece uma coisa muito mais significativa, realmente esses autores estavam mais comprometidos. Agora, os autores do presente, principalmente o Lula que foi colocado propositalmente, porque é uma figura política muito conhecida, muitos alunos vão dizer ‘não, esses do presentes são só manipuladores’.”, avalia Gregori.

“Aquilo que eles aprendem da história não é a história cem por cento da maneira com a qual ela está ali no texto didático, os alunos dão significados ao passado com uma forte influência do que eles trazem da vida cotidiana”. Dentro dessa ideia, o professor também mediu o impacto das grandes mídias na consciência política dos alunos. Para ele, a mídia hegemônica vem apresentando uma visão depreciativa e criminalizada de políticos e isso acaba por criar um senso comum de que a política contemporânea é corrupta.

Por fim, Gregori incentiva que seja feito esse exercício de comparação entre o presente e o passado nas disciplinas de História, especialmente quando se trata de temas políticos. “É uma parte importante da disciplina, a conscientização do papel daquele aluno na sociedade e o seu compromisso com a melhoria da comunidade. A história precisa se assentar sobre essas bases, senão ela vira o passado pelo passado”.

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