Pesquisadores mostram que ideação suicida afeta 4% das mulheres grávidas no Brasil

Estudo da FMUSP comprova que a condição está associada a fatores como quadros de depressão e vulnerabilidade socioeconômica

Fotomontagem com imagens de Freepik e TextureLabs por Adrielly Kilryann

O suicídio é uma das principais questões de saúde pública do mundo. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas morrem por esta causa anualmente. Somente no Brasil, 112.320 mortes foram registradas entre 2010 e 2019, de acordo com o Ministério da Saúde. Não à toa, todos os anos, a campanha Setembro Amarelo mobiliza nações a fim de prevenir o problema, visto que este pode ser detectado previamente através de sintomas como a ideação suicida (IS) – condição que pode afetar pessoas de diferentes perfis, incluindo mulheres grávidas.

Um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) atestou que 3.9% das gestantes brasileiras apresentam ideação suicida – isto é, pensamentos autodestrutivos – durante o período pré-natal. A pesquisa concluiu que o comportamento é observado, sobretudo, em mulheres jovens (com menos de 20 anos); de baixa renda e escolaridade; residentes de regiões subdesenvolvidas do país; e, principalmente, que apresentam quadros de depressão na gravidez.

A partir da Pesquisa Nacional de Saúde de 2019 (PNS 2019), um estudo de base populacional, o artigo da FMUSP confirmou dados internacionais que demonstravam uma relação direta entre o grau de intensidade da depressão e a ocorrência de ideação suicida. Ou seja, ainda que gestantes com sintomas leves também possam apresentar IS, quanto mais depressiva a mulher estiver, maiores as chances de desenvolver o problema.  

Alexandre Faisal, pós-doutor, pesquisador científico do Departamento de Medicina Preventiva da FMUSP e autor da pesquisa, explica que esse é o fator de risco que mais merece atenção: “O rastreamento sistemático de depressão na gravidez tem eficácia. Os benefícios superam os eventuais riscos de investigar a presença de depressão, mesmo quando a gestante não apresenta espontaneamente uma queixa ou sintoma psicológico”.

Ele conta que existe um senso comum acerca do bem-estar psíquico das gestantes, mas que, na verdade, muitas apresentam transtornos mentais, sendo a depressão e a ansiedade os mais comuns deles. Nesse caso, avaliar a saúde psicológica da mulher é fundamental.  “Isso não significa que ela vá cometer um ato contra si mesma, já que a IS não avalia outros aspectos, como o planejamento da ação”, esclarece o pesquisador, “mas claro que exige dos profissionais de saúde preparo para diagnóstico e tratamento adequados”.

As populações de países em desenvolvimento são as mais afetadas, visto que a identificação da IS e o seu tratamento correto enfrentam maiores limitações nestes lugares do que naqueles já desenvolvidos. A capacitação dos profissionais e dos serviços públicos, bem como a ampliação do debate sobre o tema são medidas necessárias para amenizar a questão. Faisal, que também é ginecologista e obstetra, auxilia: “O profissional de saúde deve abrir este espaço na consulta para a gestante se expressar emocionalmente e, eventualmente, pedir socorro”. “Conhecer o cenário pessoal e familiar no qual ocorre a gestação é fundamental e pode ser útil na prevenção da ideação suicida na gravidez”, completa.

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