
A partir do mês de junho, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) será sede dos encontros que compõem o ciclo do Seminário Intérpretes do Brasil: ontem e hoje, organizado por alunos do Departamento de História. A conferência de abertura contará com a participação de José Miguel Wisnik, músico, compositor e ensaísta brasileiro, que aproveitará a ocasião para celebrar os 15 anos da obra Veneno Remédio: O futebol e o Brasil. “Zé Miguel é uma figura muito bacana para se pensar nas pluralidades do pensamento social brasileiro”, conta Vitor Morais, pesquisador responsável pela organização do seminário. “Embora [Veneno Remédio] seja um livro sobre futebol, o capítulo analisado é quase uma retomada de tudo o que o Seminário aborda.”
Vitor Morais é aluno de graduação em História pela FFLCH, onde desenvolveu um projeto de Iniciação Científica que aborda o tropicalismo e seus críticos. Mesclando o estudo da História das Ideias ao campo da História Social da Arte, busca pensar os rumos das interpretações do Brasil sob uma ótica artística e musical. Um dos objetivos de sua pesquisa é entender como o modernismo – em especial a produção artística nacional que surgiu a partir da Semana de Arte Moderna de 1922 – e seus desdobramentos se manifestam no âmbito intelectual da construção da identidade nacional.
Vitor conta que, em relação às obras discutidas durante os encontros, houve uma certa preocupação com o resgate dos clássicos, prática que julga cada vez menos recorrente nos cursos de graduação em história. “Acreditamos que seja importante resgatar autores ditos ‘superados’ porque eles podem nos ajudar a entender este momento tão difícil pelo qual estamos passando no Brasil.” E acrescenta: “Nos pareceu necessário que esses autores fossem trazidos para o presente para que pudéssemos tentar entender um pouco das dinâmicas de construção [de identidade] a longo prazo.”
No entanto, não foram deixadas de lado as reflexões de vozes mais recentes da história brasileira. Entre elas, figuram nomes como Caetano Veloso, Roberto Schwarz, Chico de Oliveira e Paulo Arantes. Também há uma preocupação em dar espaço a produções historicamente negligenciadas pela comunidade acadêmica brasileira. “Um dos módulos do programa, batizado de Vozes Dissonantes, reúne autores que compõem os pensamentos ameríndio e afro-brasileiro”, conta Vitor. Entre eles estão as autoras Lélia González e Beatriz Nascimento que, apesar de terem passado pela USP em certas ocasiões, nunca ocuparam cargos no corpo docente da Universidade. O pensamento ameríndio recebeu ainda menos reconhecimento, e nomes como Davi Kopenawa e Ailton Krenak, apesar de representarem vozes essenciais para o entendimento da identidade cultural nacional, nunca atuaram como professores universitários.
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