Projeto sobre bactérias é selecionado como Centro de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento pela Fapesp

O projeto do Instituto de Química da USP estuda a biologia das bactérias e dos vírus que as infectam e aborda as múltiplas possibilidades de usos desses seres

[Imagem: Reprodução/Pexels]

No final de março, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) anunciou novos Centros de Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento (CEPID). Entre eles está o projeto liderado pelo pesquisador Shaker Chuck Farah, desenvolvido no Instituto de Química da USP. O centro de pesquisa envolverá o trabalho de outros 21 pesquisadores de institutos da USP — como o Instituto de Ciências Biomédicas e a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto — e também de outras universidades de São Paulo, como a UNESP.

O projeto de Farah foi selecionado entre 38 propostas submetidas ao edital de 2021, que abrangia as áreas de ciências biológicas, saúde, agronomia e veterinária. As propostas contempladas receberão apoio da FAPESP por no mínimo 5 anos, que pode ser estendido por até outros 2 ciclos de 3 anos, totalizando até 11 anos de financiamento. 

O Programa CEPID surgiu em 2000 para apoiar pesquisas multi-institucionais em diferentes áreas de conhecimento. Além disso, como o nome sugere, o programa busca apoiar projetos que tragam inovações com impacto comercial e social, contribuindo para a transferência de inovação e tecnologia. 

Por que estudar as bactérias?

Apesar de muito se falar em bactérias, ainda existe uma série de questões não esclarecidas e, até mesmo, desconhecidas sobre esses seres tão pequenos. Uma das principais respostas para a pergunta “por que estudar bactérias?” vem justamente do combate a elas, que tem apresentado desafios cada vez maiores, principalmente quando se fala de resistência bacteriana.

Os bacteriófagos, como são conhecidos os vírus que infectam as bactérias, estão entre os entes biológicos mais abundantes no planeta. E o maior interesse neles vem da capacidade  desses seres de matarem bactérias de forma muito específica, ou seja, a atuação deles é voltada a um microrganismo específico ou a sua classe. “Tem uma estratégia que é pouco utilizada, de usar bacteriófagos como  parte do tratamento de infecções. Você pode combinar o bacteriófago com antibióticos, porque ela [a bactéria] não vai conseguir se proteger dos dois simultaneamente”, conta Farah. 

Além dos bacteriófagos, as próprias bactérias podem auxiliar na tarefa de combate a infecções bacterianas. Como Farah explica, existe competição entre as bactérias, que afetam umas às outras através de, por exemplo, secreção e injeção de toxinas. Mas essas táticas não são usadas contra bactérias consideradas “amigas” — aquelas que, apesar de serem espécies diferentes, convivem no mesmo ambiente e não estão competindo entre si. Como isso acontece? É outra resposta que o projeto busca encontrar para aumentar as aplicações das bactérias na promoção da saúde humana. 

As bactérias não afetam apenas a saúde humana, mas também de outras espécies de animais e plantas. Um desses casos é o da Xanthomonas citri, bactéria alvo dos estudos de Farah, que infecta árvores de frutas cítricas. Apesar dessa espécie não infectar seres humanos, uma outra da mesma classe já é identificada em infecções hospitalares, a Xanthomonas maltophilia — que, mais recentemente, foi reclassificada como espécie única do gênero Stenotrophomonas

A representação do Instituto de Química no CEPID

Com tantas possibilidades de uso e a quantidade de informações que ainda estamos investigando, Farah explica que a ideia do projeto surgiu baseada na pesquisa básica, que vem do interesse humano de entender como funcionam as dinâmicas dessas bactérias. 

A pesquisa de Farah foi o segundo projeto do Instituto de Química declarado como CEPID pela FAPESP. O primeiro deles é o projeto Redoxoma, voltado à produção de pesquisas sobre processos químicos de redução e oxidação com ênfase em doenças crônico-degenerativas. 

“As reações redox – redução/oxidação – acontecem especificamente por alguma troca de elétrons. Alguma espécie oxida, perdendo elétrons, e a outra reduz, ganhando elétrons. ‘Mecanismo’ se refere especificamente a como a reação se processa”, explica Fernando Amaral, doutorando do Instituto de Química. 

Além do mais, Farah ainda relatou que projetos como o CEPID trazem “injeção de verba e de técnica para começar projetos logo do início”, bem como de ter a independência para escolher pessoas para trabalhar.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*