Medicamento mantém gatos calmos na hora de ir ao veterinário

Fármaco de uso da medicina humana pode ajudar tutores de gato na hora da visita ao veterináio

Fotomontagem: Iasmin Rodrigues/ Imagens: rawpixels.com

Uma queixa comum entre os donos de gatos é a dificuldade de levar os animais para o veterinário. Alguns dos felinos já ficam ariscos ao perceber que o tutor pegou a caixa de transporte. Pois um estudo conduzido na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP testou uma droga já conhecida no meio médico (humano, não felino) para manter os gatos calmos com resultados positivos e poucos efeitos colaterais. A pesquisa, conduzida pelo médico veterinário Edilson Isidio da Silva Júnior, testou doses do medicamento gabapentina para manter os gatos calmos antes e durante a consulta com o veterinário.

A gabapentina em humanos é usada como um possível tratamento para epilepsia, dores neuropáticas, e como uma opção terapêutica para transtorno bipolar. Nos felinos, a literatura veterinária indica um efeito calmante e sedativo, tornando a droga passível de ser usada para manter os gatos tranquilos durante o transporte. “A gabapentina é utilizada para procedimentos simples em consultório, ou realização de uma coleta ou posicionamento para um exame de imagem, portanto não é necessário um longo período de sedação”, explica o pesquisador sobre o uso atual da gabapentina na clínica veterinária e os efeitos da droga.

Em seu estudo, Silva Júnior analisou pesquisas anteriores e apontou que a dose atualmente recomendada de gabapentina para gatos (10 mg/kg) não é eficaz o suficiente para redução significativa de estresse. Isto é, fatores indicativos de um estado estressante agudo, como a frequência cardíaca, respiratória e pressão arterial dos gatos, continuavam diferentes do que é o comum quando o animal está em estado de relaxamento (em casa, sem a iminência da ida ao veterinário). Portanto, Silva Júnior testou doses maiores da gabapentina para ver a tolerância dos gatos à droga.

Estudos anteriores haviam testado doses de 100mg/kg e de 150mg/kg deste medicamento em felinos. Já em seu estudo, Silva Júnior utilizou 50 mg/kg e 100 mg/kg para fazer a comparação dos efeitos. A intenção, segundo o pesquisador, era verificar se doses acima do atualmente preconizado mas abaixo do que já havia sido previamente testado teriam o mesmo potencial de ação calmante. “Os trabalhos já indicavam eficácia com 100mg. Portanto, utilizar doses mais altas poderiam levar ao aparecimento de manifestações como sedação mais intensa ou aparecimento de outros efeitos adversos”, explica. “Não se sabe se elevar a dose necessariamente prolonga o efeito ou se poderiam surgir efeitos adversos junto a sedação como queda da pressão arterial ou frequência cardíaca. Mais estudos são necessários para se afirmar tais fatos.”.

Os resultados foram promissores, com os indicadores de estresse próximos aos níveis domiciliares. Houve poucos efeitos adversos, mesmo com a gabapentina em doses altas, sendo vômito o mais comum deles. Curiosamente, um dos gatos manifestou esse mesmo efeito colateral com o placebo. Silva Júnior explica um possível motivo para isso: “Um fator pode estar relacionado à ocorrência das manifestações é a cinetose, que é o enjoo do movimento, já que os gatos eram transportados de carro”. Alguns felinos ficaram sedados (com dificuldades para se manter de pé ou deitados) enquanto a droga estava em efeito, mas os donos afirmam a volta à normalidade de 3 a 6 horas depois. O nível de relaxamento dos gatos foi relativamente maior em maiores concentrações da droga, mas não houve diferença entre sexo ou idades.

Há outras práticas “cat friendly” que também podem ajudar a reduzir o estresse felino, como o atendimento domiciliar da equipe veterinária e o uso de feromônios que acalmem o animal. Porém, a pesquisa de Silva Júnior mostra uma opção que poderá ser interessante no futuro. Além disso, pode ajudar na determinação de uma dosagem ideal da gabapentina e assim, possivelmente, melhorar a qualidade de vida dos pacientes (e dos tutores também) “A utilização da gabapentina é benéfica pois a mesma pode ser administrada em casa pelo tutor, o que minimiza o estresse do paciente desde a saída do domicílio,” conta Silva Júnior. “Vale ressaltar que a medicação é de uso controlado e somente deve ser utilizada com prévia indicação do médico veterinário responsável.”.

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