Troca na presidência da Petrobras trará graves consequências econômicas ao país

Economista Paulo Feldmann explica consequências econômicas da saída de Roberto Castello Branco da administração da estatal

Posto de combustíveis da Petrobrás na BR-343 [Imagem: Moacir Ximenes] 
Petrobras pode enfrentar problemas econômicos devido a troca na presidência anunciada por Bolsonaro e confirmada pelo Conselho da empresa. [Foto: Moacir Ximenes] 

No dia 19 de fevereiro, por meio de postagem em suas redes sociais, Jair Bolsonaro anunciou demissão de Roberto Castello Branco da presidência da Petrobras e sua substituição pelo general da reserva Joaquim Silva e Luna, sem nenhuma experiência em combustíveis. Motivada pelo preço dos combustíveis no Brasil, a troca pode trazer profundas consequências econômicas ao país.

Paulo Feldmann, economista e professor da Faculdade de Economia e Administração da USP, explicou que a retirada de Castello Branco da presidência da empresa foi uma decisão política. Com a ameaça dos caminhoneiros de entrarem em greve por conta dos altos preços do combustível, “o Presidente da República ficou com medo”, disse Feldmann. Castello Branco se recusou a congelar o preço do combustível no país como vinha sendo pressionado a fazer pelo Presidente Jair Bolsonaro. Na visão de Paulo, Castello Branco o fez “corretamente”. 

A Petrobras é uma empresa global, que vende e compra petróleo de vários países. Se, então, por exemplo, ela comprar o barril por $100 e vender no Brasil por $30, isso dá grande prejuízo a ela. Além disso, a empresa também vende no exterior. Se o preço da gasolina no país estiver abaixo do internacional, a Petrobras vai perder muito por vender no Brasil e deixar de exportar. Fazendo isso, “ela vai à falência”. Assim, congelar o preço do combustível no Brasil, sob todos os sentidos, “é uma decisão completamente errada”.

Para o economista, colocar um presidente que vai, provavelmente, seguir Bolsonaro, atender aos caminhoneiros e praticar esta política vai ser “péssimo para a Petrobras e vai levá-la a “ter perdas gigantescas”. Feldmann disse que o Brasil vai ter preços mais baixos, mas por pouco tempo. O Brasil já teve uma experiência negativa com esse tipo de postura de congelamento de preço. Em 2014, no seu segundo mandato na presidência do país, Dilma Rousseff abaixou e o preço da gasolina só dentro do Brasil e isso causou um prejuízo enorme para a Petrobras. Para recuperar, em 2015, aumentou os preços de uma vez, causando inflação. 

Um dos líderes dos protestos pelo impeachment da presidenta Dilma em 2016, hoje deputado federal pelo DEM-SP, Kim Kataguiri, criticou a decisão de Bolsonaro no Twitter: “A troca do presidente da Petrobras indica somente uma coisa: vão controlar o preço dos combustíveis na canetada. Vimos esse filme recentemente com a Dilma. O final a gente lembra: quebradeira na estatal”.

Além disso, a forma como o anúncio da troca da presidência foi feita levantou grandes questões. Suas ameaças no dia anterior em forma de live e o anúncio de uma grande decisão como essa, inesperada pelos acionistas, por meio de suas redes sociais, não pelas oficias do governo, causou variações imediatas na bolsa de valores. Após já terem recuado na sexta-feira do anúncio, as ações preferenciais da estatal fecharam com queda de 21,5%, a R$ 21,45 na segunda-feira seguinte (22/02), quando a Ibovespa desabou 5% e a empresa perdeu R$ 102, 5 bilhões em valor de mercado. 

 

Presidente Jair Bolsonaro anunciou a troca na presidência da Petrobras através de tuíte. [Imagem: Reprodução/Twitter @jairbolsonaro]
É preciso lembrar que a Petrobras tem acionistas no mundo inteiro. O governo é o controlador, mas não possui nem metade das ações. Os outros acionistas podem se sentir extremamente prejudicados com a decisão de Bolsonaro e processar a empresa, como já foi feito em 2014 nos Estados Unidos. Feldmann explica que isso pode acontecer porque “o acionista não vai querer que a empresa tenha um presidente que tome decisões contra a Petrobras”, como é o caso do congelamento dos preços. 

Além das consequências diretas já abordadas, a troca da presidência também interfere na imagem internacional do Brasil, que é muito importante em questão de investimentos. Segundo Paulo Feldmann, já existe uma má vontade contra o Bolsonaro no exterior, isso por conta, principalmente, de suas atitudes em relação a não preservação da Amazônia. Estas, já haviam feito com que vários investidores estrangeiros deixassem de investir no país. “Em 2020, os investimentos caíram em todo o mundo, mas no Brasil caiu mais”, disse Paulo. 

O economista explicou que quando uma pessoa investe, ela procura investir em um país que seja estável e em que as decisões sejam tomadas levando em conta os princípios corretos de economia e administração. “Eles não vão investir em um país onde o presidente da República intervenha em uma medida gerencial interna de uma empresa, e que ainda dê prejuízo a ela, como Bolsonaro fez”. Isso é uma coisa inédita no mundo e não acontece em mais nenhuma república”. Por isso, Feldmann prevê que o Brasil vai ter “prejuízos seríssimos esse ano também em matéria de investimentos estrangeiros”.

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