Interferência humana no Parque Nacional do Iguaçu não compromete satisfação de turistas

Infraestrutura e grande número de visitantes são neutros, mesmo para os que possuem elevado nível de consciência ambiental

O Parque Nacional do Iguaçu teve recorde de visitação em 2017, recebendo mais de 1,7 milhão de pessoas no ano. Foto: Divulgação. Créditos: Cataratas do Iguaçu S. A.

A possibilidade de pessoas com elevado nível de consciência ambiental ficarem insatisfeitas com a visita a áreas naturais onde a presença humana é muito marcante estava entre as hipóteses verificadas na dissertação de Ana Cristina Rempel de Oliveira,  mestre em Ciências pelo Programa de Pós-graduação em Turismo da EACH-USP.

Para a surpresa da pesquisadora, essa suposição não foi confirmada pela pesquisa. O que se descobriu, após a análise das respostas de 434 visitantes do Parque Nacional do Iguaçu a um questionário, foi que os entrevistados se comportavam de forma neutra em relação a esse aspecto.

Mesmo as pessoas que têm uma maior consciência ambiental não estranharam aquele ambiente estruturado e com muita visitação. É como se eles já estivessem acostumados a ver isso”, observa Ana Oliveira.

O questionário continha sentenças relacionadas ao interesse por turismo baseado na natureza, à motivação da viagem, à consciência ambiental e à satisfação. As alternativas para resposta seguiram o modelo da escala Likert, com intervalos de 1 a 5 que vão de “discordo completamente” a “concordo completamente” ou de “não importante” a “muito importante”.

Os visitantes que compuseram a amostra residiam em países de fora da América do Sul. A escolha desse perfil partiu da busca por um grupo expressivo, mas relativamente uniforme capaz de gerar resultados com potencial de comparação. Por meio das respostas, o grupo demonstrou possuir um alto nível de consciência ambiental (média 4 na escala utilizada), além de um grande interesse por turismo baseado na natureza.

O Parque Nacional do Iguaçu possui uma trilha para visitação, cuja extensão é relativamente enxuta, com 1.200 metros, porém o espaço chega a abrigar mais de 10 mil pessoas durante a alta temporada. Além do trajeto pavimentado, também há no parque uma estrutura de serviços composta por restaurantes e lojas. Contudo, apesar da presença humana bastante evidente, a satisfação dos turistas analisados foi tão alta quanto o seu nível de consciência ambiental.

Segundo Ana Oliveira, as constatações da pesquisa são úteis para o conhecimento científico e para o mercado, pois elas possibilitam entender o que contribui para o aumento da satisfação do consumidor no contexto do turismo baseado na natureza. O trabalho pode auxiliar especificamente nas decisões do Instituto Chico Mendes, responsável pela administração do Parque Nacional do Iguaçu e por outras 332 unidades de conservação federais. A contribuição seria, principalmente, voltada ao planejamento estrutural de unidades que possam ser abertas ao público futuramente.

Além disso, as conclusões da dissertação reforçam a possibilidade de aliar visitação e conservação nas áreas naturais. A pesquisadora afirma, inclusive, que a receita dos parques pode ser revertida para a sua manutenção. Assim, o dinheiro recebido pode auxiliar na conservação das unidades. Ela ainda compartilha sua posição pessoal a respeito do tema: “É possível ter a visitação aliada à conservação das unidades, o que é uma questão muito polêmica. A visitação ainda é apontada como o vilão da história, mas os meus resultados apontam que ela pode contribuir para a posteridade das unidades de conservação”.

Para Ana Oliveira, a pesquisa pode ser um ponto de partida para uma investigação mais ampla. Ela identifica a possibilidade de se realizar o mesmo estudo utilizando uma amostra maior ou de aplicá-lo a outros parques com a finalidade de verificar se o comportamento observado se repete em nível nacional.

 

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*