Evento busca conscientizar médicos sobre imunodeficiências

V Congresso Latino-americano de Imunodeficiências ocorrerá em outubro e buscará educar médicos sobre como identificar e tratar doenças raras do sistema imunológico

O Quinto encontro da Sociedade Latino-americana para Imunodeficiências deve ocorrer em outubro, na cidade de São Paulo - Fonte: https://lasid.org/wp-content/uploads/2015/09/lasid_logo_fondo_blanco.png

Será realizado em São Paulo, entre os dias  4 e 7 de outubro, o Quinto Congresso Latino-americano de Imunodeficiências, evento bienal realizado pelo Lasid (Sociedade Latino-americana de Imunodeficiências) e que tem como principal proposta reunir os principais pesquisadores e estudiosos da área para debaterem sobre as principais mudanças e descobertas dos últimos anos. Segundo o professor Antonio Condino Neto, do Laboratório de Imunologia Humana do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (ICB), a principal proposta do evento é educar os médicos sobre as imunodeficiências e orientá-los a como reconhecê-las, diagnosticá-las e tratá-las.

O estudo do professor, um dos poucos especialistas em imunodeficiências do Brasil, se volta principalmente para a análise das imunodeficiências primárias, doenças que não se desenvolvem a partir de um fator anterior, mas já estão presentes no paciente no momento de seu nascimento. “Existem mais de 300 tipos de doenças imunodeficientes primárias”, afirma. “A mais famosa delas é a do caso do menino que vivia em uma bolha de plástico”. O professor faz referência a um caso famoso de um garoto que, por conta dessas doenças, nasceu sem qualquer sistema imunológico e que, por isso, precisava viver dentro de uma bolha de plástico, sem contato com o mundo, para evitar qualquer tipo de infecção. “A criança acaba tendo todos os tipos de infecção, porque não possui sistema imunológico para combatê-las, e essas infecções acabam atrapalhando o pleno desenvolvimento do paciente”, completou. Antonio também exemplifica com casos de pessoas que apresentavam uma pneumonia por mês por conta dessa imunodeficiência e que, por isso, acabaram tendo lesões no pulmão devido à constância das infecções. Por isso, é necessário, nesses casos, um diagnóstico precoce, para evitar o desenvolvimento da doença e o aumento das sequelas.

O caso do menino bolha é um dos mais conhecidos relatos de imunodeficiência – fonte: https://i2.wp.com/diariodebiologia.com/wp-content/uploads/sites/4/2014/07/bolha03.jpg?resize=500%2C375

Um estudo realizado pelo professor e pela doutoranda Lucila Akune Barreiros, focado principalmente no grupo das Imunodeficiências Combinadas Graves (SCID, Serious Combined Imunodeficiences), que agrupa em torno de 20 síndromes do tipo, busca implementar e ampliar a triagem neonatal, método de diagnóstico que utiliza o sangue colhido do pé de um recém-nascido para se extrair o DNA e analisar o desenvolvimento de células do sistema imunológico, como os Linfócitos T e B. Essa análise permite concluir se a criança possui ou não uma imunodeficiência e, dessa forma, iniciar um tratamento precoce que pode impedir a manifestação da doença ou, ao menos, melhorar o prognóstico do paciente. “O ‘teste do pezinho’ do SUS só identifica seis tipos de imunodeficiências”, afirma Lucila. “Nós queremos usar esse método para cobrir todas as SCID e ampliar o diagnóstico precoce para iniciar os tratamentos adequados o mais cedo possível”.

O objetivo dessa pesquisa e do Congresso do Lasid, que será realizado no começo de outubro, é ampliar o conhecimento geral sobre esse tipo de doença e sobre toda a área da imunodeficiência em geral, considerada como uma pesquisa negligenciada e “com tratamento negligenciado”, de acordo com o professor Condino. “Por se tratarem de doenças raras e de conhecimento recente, os médicos em geral as desconhecem, e o médico só pode diagnosticar aquilo que que ele conhece”, diz o professor. Segundo ele, o ideal seria um programa educativo que preparasse os médicos de diversas áreas para reconhecer e tratar as imunodeficiências. Essa campanha já é realizada pelo Grupo Brasileiro de Imunodeficiências, em parceria com o Lasid, a Fapesp, o CNPq e a Fundação Jeffrey Modell, uma das maiores em pesquisa no ramo, com quem o ICB detém uma parceria desde 2009.

O Quinto encontro da Sociedade Latino-americana para Imunodeficiências deve ocorrer em outubro, na cidade de São Paulo – Fonte: https://lasid.org/wp-content/uploads/2015/09/lasid_logo_fondo_blanco.png

Outra questão importante a ser fomentada no Brasil é a pesquisa. “Existe um total de 1.800 alergistas e imunologistas no país, mas apenas 150 são especialistas em imunodeficiências”, explica o professor. No total, existem apenas dez centros no país voltados a esse tipo de pesquisa, e a maioria do material produzido é destinado à área clínica, sem grande enfoque no avanço do diagnóstico e tratamento dessas doenças.

O tratamento dessas doenças também é um fator a ser ampliado no país. A principal forma de combater uma imunodeficiência é através da injeção de imunoglobulinas no corpo do paciente, que substituirão os anticorpos que o corpo não consegue produzir. Essas imunoglobulinas são extraídas em fábricas de hemoderivados, algo que o Brasil não possui, o que o força a importar toda a imunoglobulina utilizada. Dois projetos para fábricas de hemoderivados, uma em Pernambuco (Hemobrás) e outra no Instituto Butantã, chegaram a ser desenvolvidos, mas nenhum deles seguiu adiante.

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