Pesquisa da USP estuda autoanticorpos e a sua interação com o sistema imunológico

De acordo com o Instituto de Ciências Biomédicas, esses anticorpos se ligam às moléculas do próprio corpo e têm ligação com as doenças autoimunes

O ser humano possui mais de 10 trilhões de células [Imagem de capa: Reprodução/KUNM]

“A pesquisa busca encontrar anticorpos que sejam importantes para o desenvolvimento de medicamentos contra doenças autoimunes” (Otávio Cabral Marques)

Um estudo realizado pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) busca entender melhor as relações entre diferentes grupos de moléculas do sistema imunológico humano, dentre elas, os autoanticorpos. Eles recebem esse nome porque, em sua maioria, atuam contra as moléculas do próprio corpo. E, por isso, estão envolvidos em doenças autoimunes e em casos mais graves da Covid-19. Entretanto, os pesquisadores da USP descobriram que eles estão presentes em outras interações do corpo humano, não somente em patologias. 

Otávio Cabral Marques, orientador e pesquisador do departamento de Imunologia e Farmacologia da USP, conduz estudos sobre as alterações moleculares em pacientes com suscetibilidade a infecções.  “Queremos mostrar que as alterações patológicas que existem, relacionadas aos anticorpos, são, na verdade, resultado de uma alteração natural do organismo”, conta o pesquisador. Através desse estudo, os cientistas pretendem modular essas moléculas para que  tenham um propósito terapêutico de melhorar o tratamento de algumas doenças, como as autoimunes. 

Segundo o orientador, há um engano em pensar que o autoanticorpo é uma molécula apenas patológica. O que os pesquisadores do ICB demonstram é que ela integra a fisiologia normal do corpo humano. De acordo com Otávio,  “qualquer indivíduo tem autoanticorpos”, mesmo quem não apresenta uma condição autoimune. O organismo naturalmente produz essas moléculas, mas somente em algumas situações e contextos eles se alteram e causam a doença. 

Estima-se que cerca de 30% das pessoas é portadora de alguma doença autoimune, mas não sabe disso [Imagem: Reprodução/Pixabay]
O estudo demonstrou que em casos graves da Covid-19, por exemplo, o paciente começa a apresentar algumas características da doença autoimune. “Os níveis de autoanticorpos ficam desbalanceados e podem ser nocivos. Entretanto,  alguns deles ainda são protetores. Então, é preciso caracterizar, com mais detalhes, os mecanismos pelos quais esses anticorpos funcionam para desenvolver o tratamento”, narra o pesquisador. 

Além do exemplo da Covid-19, os autoanticorpos participam do desenvolvimento de certas  doenças autoimunes, como: lúpus, esclerose sistêmica e artrite reumatóide. Saindo do contexto dessas enfermidades, ainda é possível notar a atuação dessas moléculas em doenças cardiovasculares e neurológicas. 

Lúpus tem como símbolo o laço roxo. Casos graves da doença chegam a atacar os rins dos pacientes [Imagem: Reprodução/Pixabay]
Otávio conta que seu mais recente trabalho caminha para o estudo de patologias neurodegenerativas e relacionadas à saúde mental. “Entender, por exemplo, as doenças de Alzheimer e Parkinson, depressão, e até condições psíquicas e psicológicas, como as alterações moleculares participam nesses contextos”. O pesquisador ainda afirma que existem autoanticorpos para quase todas as moléculas do corpo humano, por isso, é importante entender suas interações e saber se sua funcionalidade é prejudicial ou benéfica. Essa distinção pode ajudar no desenvolvimento de medicamentos para doenças relacionadas à essas moléculas. 

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