
Com o alastramento da pandemia, tornou-se cada vez mais importante a identificação dos locais onde há maior ocorrência de casos de coronavírus – algo feito diariamente pela Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos, por exemplo, com seu mapa interativo que contabiliza, em tempo real, os casos da Covid-19 no mundo. Mas as iniciativas americanas não têm sido as únicas na busca pelo acompanhamento da evolução dos casos. No Brasil, estudos que seguem essa mesma linha vêm ganhando força. É o caso do mapeamento realizado pelo grupo de estudo Espaço Urbano e Saúde, do Instituto de Estudos Avançados da USP.
O Monitora-Clusters é um monitoramento criado em abril de 2020 com o objetivo de representar as áreas de alto risco para os casos e para os óbitos por Covid-19 no Brasil, identificadas por uma análise espacial. De acordo com Ligia Vizeu Barrozo, coordenadora do grupo de estudo, “a finalidade principal de identificar áreas de alto risco é orientar a gestão pública em tomadas de decisão”, o que contribui para o desenvolvimento de políticas públicas de combate à doença.
Ao explicar como o mapeamento funciona, Ligia conta que a análise faz uma varredura em todo o território nacional considerando a população de cada município e o número de casos ocorridos. Após os dados de cada cidade serem coletados, eles são dispostos no mapa do Brasil. “Imagine um círculo com o raio centrado em cada município. O raio do círculo se abre procurando envolver municípios com mais casos ocorridos em relação aos esperados para aquela população em comparação com a população de fora do círculo. Quando esse círculo é encontrado, há um cálculo estatístico para verificar se o agrupamento é significativo”, completa a pesquisadora.
Ao falar sobre o monitoramento, ela cita as dificuldades de realização: “Estamos usando os dados compilados pela iniciativa Brasil.io e comparando com os totais disponibilizados pelo Ministério da Saúde. No entanto, os dados não apresentam a variável idade. Como a estrutura etária das populações dos municípios varia bastante, a informação sobre a idade dos casos e óbitos contribuiria para análises mais precisas”.
Como em muitos estudos que vêm sendo desenvolvidos neste momento de pandemia, a subnotificação é um fator determinante e difícil de ser mensurado. O monitoramento realizado pelo grupo não trabalha com o cálculo dessa subnotificação, mas a coordenadora comenta que, assim como em qualquer análise, o mapeamento é afetado por esse aspecto. Estudos brasileiros mostram que o número de contaminados pode ser de 12 a 15 vezes maior do que o divulgado diariamente pelo Ministério da Saúde.
A aparência do mapa que vem sendo alimentado pelos pesquisadores se assemelha bastante àquela do divulgado diariamente pela John Hopkins. Apesar disso, o foco do monitoramento brasileiro é um pouco diferente: o Monitora-Clusters busca atuar, também, na prevenção. Segundo Ligia, o intuito com a identificação dessas áreas é o de auxiliar a gestão pública, indicando melhores caminhos para alocação de recursos humanos e materiais, orientando o distanciamento social e o envio ambulâncias para municípios sem serviço de saúde para os casos graves e apontando os locais com mais necessidade de se aumentar a testagem em casos suspeitos.
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