Projeto de moradia ribeirinha feito por arquiteta da USP é destaque em premiações ao redor do mundo

Apostando na arquitetura não impositiva, trabalho de ex-aluna incorpora elementos tradicionais da região

Imagem do projeto de Danielle Gregorio

Como Trabalho Final de Graduação (TFG), a arquiteta Danielle Gregorio propôs uma construção que contemplasse a população ribeirinha amazônica. O estudo realizado levou em consideração a cidade de Manaus e os problemas habitacionais comuns na região,. A solução encontrada por Danielle resultou no projeto Sobre as Águas da Amazônia – Habitação e Cultura Ribeirinha.

Após a entrega do trabalho em dezembro de 2019, o projeto, que não passou por nenhuma modificação, foi inscrito em diversos concursos nacionais e internacionais. No mesmo mês ele “foi destaque no maior site de arquitetura do mundo, o Archdaily, entre os melhores trabalhos de conclusão de curso do Brasil e Portugal”, como conta a ex-aluna da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, em entrevista à AUN

Em seguida ele foi publicado como um dos melhores trabalhos de conclusão de curso entre 27 países no livro World Arch-student- Best Project Selection Book da editora sul-coreana Archiworld Magazine. Aqui no Brasil o projeto recebeu o primeiro lugar no 1° Prêmio ENANPARQ-Brasília, da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo.

O primeiro lugar também foi conquistado por Danielle no concurso internacional da fundação suíça Lafarge Holcim Foundation for sustainable construction dentro da categoria Next generation Latin America e no concurso promovido pela IE School of Architecture and Design de Madrid, que leva o nome IE Architecture and Design Prize, no qual a arquiteta recebeu uma bolsa integral para a realização do mestrado na instituição. Por conta da pandemia, o início do mestrado, que deveria acontecer este ano, foi adiado para 2022. 

Por se tratar de um projeto de conclusão de curso, as residências planejadas por Danielle não foram construídas, mas ela acredita que seriam efetivas tanto na cidade de Manaus quanto em outras regiões amazônicas com comunidades ribeirinhas semelhantes. Um dos principais motivos apontados por ela é a adequação ao clima e à paisagem amazônica que foram considerados no desenvolvimento do trabalho.

Ela explica que o sucesso do projeto se deu por conta do respeito às características específicas das comunidades, diferentemente do que acontece em projetos de “arquitetura impositiva”, que criam modelos genéricos de construções. Um exemplo de inadequação citado pela arquiteta em seu projeto é a utilização de materiais que não promovem conforto térmico nas residências. O uso de telhas de metal nas palafitas é visto pela população ribeirinha como símbolo de status social, mas a cobertura vegetal, que é menos valorizada, é um material mais adequado para evitar que a temperatura dentro das casas suba excessivamente.

A população ribeirinha possui um forte vínculo com a identidade cultural e de construção da região, e quando os projetos arquitetônicos são impostos para eles de forma a ignorar as características históricas e tradicionais, acontece “uma grande falha na função do arquiteto e na função da habitação”, como conta Danielle. 

Mas respeitar as especificidades locais não significa ignorar os problemas habitacionais vividos na região. A população ribeirinha possui ligações extremamente próximas com os rios, eles são meios de locomoção, abastecimento, lazer e higiene. Justamente por essa proximidade que é tão perigoso o fato de a maioria dessas casas não terem acesso ao saneamento básico.

Os banheiros mais comuns nas habitações tradicionais não possuem vasos sanitários e os dejetos dos moradores são despejados diretamente no rio, fazendo com que os riscos de contaminação da população sejam altos. A situação de vulnerabilidade enfrentada por eles foi uma das principais preocupações da arquiteta durante o desenvolvimento de seu projeto, que conta com a instalação de uma mini estação de tratamento de esgoto local, “permitindo que a água utilizada no conjunto retorne limpa aos rios e igarapés”.

Apesar das modificações significativas nas construções tradicionais, o projeto de Danielle foi inspirado na arquitetura tradicional ribeirinha da Amazônia, fazendo com que ele exista em harmonia com o povo e seu ambiente. A elevação da base da construção foi influenciada pelas palafitas, já os pisos flutuantes previstos no projeto são inspirados nas casas flutuantes da região. Essas características tornaram o projeto um destaque entre os trabalhos de arquitetura nacionais e internacionais, e garantiram o reconhecimento da arquiteta em tantas premiações.

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