Estudo busca melhorar relação de convívio e permanência social nas cidades

Foto: Márcio James/Amazônia Real

Milhares de brasileiros deslocam-se ao trabalho por meio dos transportes públicos, ônibus, trem e metrô, diariamente. Há também aqueles que optam pela utilização dos transportes individuais como carros e motos, em alguns cenários até mesmo as bicicletas. Mas, o que une esses dois distintos grupos no que se refere a locomoção pela cidade? Por conta da rotina intensa, na maioria das vezes, ambos não conseguem estabelecer uma relação mais próxima e de lazer com suas cidades. Ou seja, eles apenas circulam pelas cidades sem necessariamente permanecer, conviver e conhecer melhor as regiões. 

Foi pensando nisso que Rafael Pollastrini, pesquisador e arquiteto, desenvolveu sua dissertação de mestrado “Entre o passar e o estar: o projeto da rua como lugar de permanência e convívio na cidade de São Paulo”, defendido pela FAAUSP, utilizando a cidade de São Paulo como recorte. A pesquisa buscou expandir a visão comum das ruas, ampliando suas utilidades para além dos automóveis, e teve como objetivo contribuir para construção de projetos futuros e fomentar a discussão sobre o tema. 

O arquiteto dividiu sua metodologia de pesquisa em três partes. Primeiro, ele buscou fazer uma revisão bibliográfica, utilizando acervos públicos municipais, para levantar quais projetos já tinham sido realizados. Após essa etapa, o pesquisador filtrou os documentos encontrados e digitalizou o material relevante para a pesquisa. Por fim, o Rafael redesenhou os projetos, com o objetivo de identificar estratégias de intervenções e adaptá-las para futuras iniciativas. “O redesenho era para entender a proposta daqueles projetos e reorganizar isso de uma forma mais fácil do ponto de vista de devolução à comunidade […] tentando oferecer um conjunto de ferramentas para profissionais [de arquitetura] aplicarem no futuro”, explica o pesquisador.

Vale ressaltar que a dissertação do Rafael teve como intuito facilitar projeções futuras, no caso ele coletou os materiais para condensar de forma didática aos projetistas. Por mais que sua pesquisa tenha um caráter mais acadêmico, considerando o uso do trabalho por profissionais, a questão social faz-se presente nas camadas da dissertação. Já que, os resultados finais buscam melhorar a relação entre sociedade e espaço urbano, como forma de dar novos sentidos de lazer e convívio para a população. “Com a rua pensada não somente como um eixo de circulação, mas também como espaço, lugar de permanência e convívio. Por isso é olhar para essa situação e verificar as possibilidades de projetos a partir de experiências anteriores”, afirma o arquiteto.

Um dos motivos dessa relação distante entre as partes, para o pesquisador, é resultante de como os automóveis tornaram-se prioridades ao pensar nas ruas das cidades. Os carros e motos, ao passar dos anos, foram ampliando seus espaços em detrimento das calçadas e espaços para circulação de pedestres. Tanto que o arquiteto aponta o encurtamento das calçadas, fazendo com que a população precise disputar com o espaço com os veículos. “Quando você vê tem uma vida nesses locais. As pessoas brincam na rua, ocupam aquele espaço e o carro quase que pede passagem”, comenta Rafael.

As mudanças, olhando para o mesmo objeto, a rua, podem sair do escopo entre sociedade e cidades e melhorar outros aspectos como o meio ambiente. O arquiteto destaca que a revisão do desenho urbano pode ampliar a densidade arbórea da cidade, resultando em novos corredores verdes, aumento na quantidade de sombras e até mesmo minimizar o fenômeno das ilhas de calor. Para isso, o Rafael enfatiza que é preciso ampliar o debate e participação técnica da arquitetura nas construções de projetos, além da colaboração populacional. “Nunca esquecendo a dimensão política da cidade como um lugar de todos, para que todos tenham direito e também o dever de participar dessa discussão e construção”, sacramenta o pesquisador.

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