Pesquisa do Instituto de Relações Internacionais discute o papel do Brasil no mundo durante o governo Lula

Estudo analisa disputa doméstica pela concepção do papel do Brasil durante o governo Lula

Reprodução: Rafaela Biazi/Unsplash

A dissertação de mestrado desenvolvida por Pedro Labriola no Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP) aborda as disputas domésticas em torno do papel a ser desempenhado pelo Brasil no plano mundial, no contexto da política internacional brasileira durante o governo do ex-presidente Lula. 

O trabalho intitulado O papel do Brasil no mundo: um estudo da disputa doméstica pela concepção do papel do Brasil durante o governo Lula explora essa perspectiva a partir de dois eventos: a nacionalização de hidrocarbonetos pela Bolívia, em 2006, e as negociações trilaterais Brasil-Turquia-Irã, em 2010. 

Os eventos foram escolhidos para a análise, pois representam dois dos momentos que mais provocaram disputas e debates no plano doméstico. “Outros casos salientes foram considerados, mas por uma questão de tempo decidi, junto com meu orientador, abordar apenas dois casos: um referente ao papel regional do Brasil e outro referente a suas ambições globais”, explica Pedro. “A escolha de casos salientes no debate público me proporcionou mais e melhores fontes para explorar e contextualizar melhor os discursos dos atores participantes na disputa pelo papel a ser desempenhado pelo Brasil em cada caso”, complementa. 

Com relação ao período a ser analisado, por sua vez, a decisão foi feita em razão da política externa “ativa e altiva” adotada durante o governo Lula, segundo o então ministro das relações exteriores, Celso Amorim. “Com a liderança dessas duas figuras, Lula e Amorim, o governo promoveu a adoção de papéis novos para o Brasil no cenário internacional, e isso levou a disputas domésticas, ilustradas principalmente pelo debate intenso entre governo e oposição”, comenta Pedro. 

A dissertação utiliza-se do conceito de Role Theory, ou Teoria dos papéis organizacionais, noção que possui origens na psicologia social, sociologia e antropologia, e que viabiliza a discussão sobre o papel (role) como fator explicativo das interações entre Estados, propondo tratá-los como atores em um contexto social. O conceito foi introduzido para a análise da política internacional em 1970 pelo cientista político canadense, K J Holsti. 

Ao detalhar a decisão de estudar as relações internacionais do Brasil através da lente da Role Theory, Labriola declara que: “A Role Theory, apesar de não ser exatamente nova, vem sendo mais utilizada nas Relações Internacionais e na Análise de Política Externa nos últimos anos”. “No Brasil, seu uso é incipiente. Ela tem ganhado proeminência junto com outras abordagens teóricas que privilegiam aspectos imateriais como variáveis explicativas para o comportamento dos Estados e outros atores das relações internacionais”, explica. 

Para o autor, a estrutura conceitual da teoria permite análises que transitam entre o foco sobre o sistema internacional e sobre a política externa, que apesar de conectados são tradicionalmente estudados em separado.

O autor ressalta que durante o governo Lula, as contestações sobre o papel a ser adotado pelo Brasil na região e no palco global foram mais intensas e frequentes do que em outras períodos da história recente, e portanto, isso favorece o trabalho de análise proposto a partir de conceitos da Role Theory.

Pedro reforça a intenção do trabalho de contribuir com os questionamentos sobre a visão de um consenso nacional sobre o papel do Brasil no mundo, além de buscar revelar a diversidade de pensamento em política externa que existe no país.

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