Busca por novos fármacos para tratamento da tuberculose avança

Pesquisa da Faculdade de Ciências Farmacêuticas indica novas opções para combater a doença

Moléculas de carboidratos podem ser nova possibilidade de tratamento para pacientes de tuberculose. (Fonte: FreeStocks.org)

A tese de doutorado de Natanael Segretti, Planejamento e síntese de tuberculostáticos potenciais com base na estrutura de maltosiltrasferase (GlgE) de Mycobacterium tuberculosis, apresenta perspectivas para novos remédios contra a tuberculose. A possibilidade se dá por meio da síntese de carboidratos capazes de inibir a atividade das bactérias causadoras da doença. “O uso de açúcar, para esse caso, poderia reduzir efeitos colaterais e tóxicos no nosso organismo”, afirma Segretti. O pesquisador chegou à uma molécula com atividade moderada que poderá ser utilizada como protótipo para novas pesquisas.

De acordo com o relatório anual da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil tem aproximadamente 84 mil ocorrências anuais de tuberculose  e é um dos 20 países que concentram cerca de 85% dos casos da doença no mundo, os chamados reservatórios. “Apesar do registro dos casos de modo eficiente ser uma meta da Organização Mundial da Saúde (OMS), ainda existe uma certa dificuldade em cobrir 100% do nosso país”, explica o pesquisador. Isso acontece porque o registro é mais difícil em regiões de difícil acesso e o diagnóstico pode ser confundido devido às similaridades dos sintomas. “Muitas vezes, o médico pode ter um diagnóstico de gripe, algo mais simples. Só no retorno, com a persistência de tosse, com ou sem sangue, ele vai ter uma anamnese mais detalhada e detectar a  tuberculose.”

Outros fatores também contribuem para o aumento da incidência da doença. O maior número de portadores de HIV, por exemplo, influencia esse quadro. Estima-se que uma em cada quatro pessoas tem o bacilo da tuberculose adormecido em seu organismo, impedido de se manifestar pelo sistema imunológico. “Com a coinfecção com o HIV, o sistema imune fica debilitado e a tuberculose se manifesta”, esclarece o pesquisador.

Outro aspecto é o surgimento de bactérias resistentes aos fármacos disponíveis. Os mais utilizados até hoje (isoniazida, etambutol, rifampicina e pirazinamida) foram descobertos entre as décadas de 1940 e 1970. “É uma terapia ultrapassada”, avalia Segretti.  “As bactérias evoluíram e começaram a desenvolver mecanismos de resistência aos antibióticos”. Não houve novas gerações de remédios para a tuberculose por falta de interesse econômico. “A indústria não via a doença como algo lucrativo porque ela acometia principalmente os países pobres”, observa o pesquisador.

Esses microrganismos também são difíceis de combater pela falta de adesão correta ao tratamento: por ser um processo longo de até um ano, caro e com muitos efeitos colaterais, muitos pacientes o abandonam assim que sentem melhora. “Com isso,  o bacilo se torna resistente e essas pessoas começam a contaminar outras sem saber”, alerta Segretti. A globalização também contribui para a disseminação rápida da tuberculose, pois favorece o deslocamento e o contato de  pessoas de diversas regiões.

A tese também contribuiu para elaboração de um modelo mais adequado para o teste de carboidratos. “Temos uma forma de ensaio biológico mais aplicada. Porém, desprezar uma molécula porque ela não foi ativa nesse modelo é muito arriscado”, diz Segretti.

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