O enxerto de pele autólogo é um procedimento cirúrgico realizado há mais de 100 anos para recuperação de pacientes vítimas de queimaduras severas. Nestes casos, parte do tecido do paciente é retirado e utilizado para cobertura de suas próprias feridas.
Entretanto, durante a intervenção, o cirurgião pode constatar que o local de recebimento do enxerto não se encontra preparado ou que houve excesso na retirada de pele, necessitando do armazenamento do material.
Assim, para evitar contaminações e garantir a estocagem e conservação adequada, o material precisa estar devidamente refrigerado, em temperatura ideal, por até 14 dias.
Método usado frequentemente durante a Segunda Guerra Mundial, o enxerto de pele autólogo foi tema de muitos estudos que buscavam encontrar uma forma efetiva de armazenar a pele e evitar contaminações que, por vezes, derivam de bactérias naturais da pele humana.
Com a meta de melhorar os procedimentos para a preservação destes tecidos humanos, um grupo de pesquisadores da FM analisou 88 amostras de enxertos de pele autólogos retirados na Unidade de Queimados do Instituto Central (IC), o qual faz parte do Hospital das Clínicas (HC), e estabeleceu um protocolo que garantisse a qualidade do armazenamento e preservação do tecido.
Sobre o estudo
Realizado entre 2015 e 2016, o artigo Estabelecimento de protocolo para armazenamento de pele autógena refrigerada traz a descrição do processo de preservação e armazenamento de 88 amostras de pele de pacientes que sofreram queimaduras de segundo e terceiro grau e que necessitaram de enxerto autólogo dentro da unidade.
Observando todos os processos de degermação (remoção/redução de bactérias), preservação e análise microbiológica, os pesquisadores puderam traçar pontos críticos encontrados durante a estocagem do material.
Dentre as amostras, 50 delas foram descartadas do estudo por coleta inadequada das biópsias microbiológicas. Das 38 restantes e que foram estudadas, 34 estavam contaminadas, sendo 2 na fase pós-armazenamento e somente 4 não tinham contaminação.
De acordo com a pesquisa, os principais microrganismos encontrados foram Staphylococcus aureus, Pseudomonas aeruginosa, Enterococcus faecalis, Klebsiella pneumoniae e Staphylococcus coagulCase negativo, sendo estes os agentes mais comuns em grandes queimados.
Proposta do estudo
Entre os pontos críticos destacados no estudo, o grupo enfatizou a inadequação dos registros sobre os processos – o que ocasionava o extrapolamento do prazo de armazenamento e não descarte -, bem como a falta na coleta de culturas microbiológicas no pré e pós-armazenamento.
Além disso, identificou-se a necessidade de adquirir um equipamento de refrigeração científica, uma vez que o aparelho utilizado anteriormente era de uso doméstico e sofria constantes oscilações de temperatura, proporcionando condições para o crescimento de bactérias. Estas oscilações explicariam os dois casos de crescimento bacteriano encontrados exclusivamente no pós-armazenamento.
Com base nas informações coletadas, os pesquisadores definiram o enfermeiro como o profissional a ser responsável pelo controle de preservação e armazenamento dos enxertos, uma vez que há envolvimento do profissional na preparação do kit de armazenagem e no controle da refrigeração. Em entrevista à Agência Universitária de Notícias (AUN), a pesquisadora, biomédica, e pós-graduada em Captação, Doação e Transplante de Órgãos e Tecidos, Renata Oliveira, afirma que com a colaboração da enfermagem foi possível desenvolver um documento, chamado Procedimento Operacional Padrão “POP”. que detalha o passo a passo e garante que os envolvidos consigam realizar os procedimentos de forma padronizada, diminuindo os desvios e garantindo a qualidade.
Diferença entre a doação de pele
Vale destacar que as condições de armazenamento do enxerto de pele autólogo diferem dos tecidos destinados à doação. “No Banco de Tecidos ICHC são manipulados aloenxertos de pele que foram adquiridos através do processo de doação. Esse processo ocorre quando o paciente é diagnosticado com morte encefálica e pode torna-se um potencial doador de órgãos e tecidos”, explica Renata. “Esse processo inicia-se com a entrevista familiar e, após este esclarecimentos, temos a doação [caso seja a decisão da família]”. Assim, após uma análise criteriosa de histórico clínico, social e exames sorológicos do doador, o Banco de Tecidos realiza a retirada de pele, que será processada e preservada em glicerol, tornando-se enxerto de pele alógena com validade de até 24 meses.
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