
Estudo realizado pelo Laboratório de Recifes de Corais e Mudanças Climáticas (LARC), do Instituto de Oceanografia da USP (IOUSP), buscou compreender o processo erosivo do coral Mussismilia harttii, a partir do contexto de branqueamento dos corais de 2019. Os corais brasileiros foram muito afetados por este fenômeno decorrente das mudanças climáticas. Até então, pouco se estudava a respeito dos recifes únicos do Atlântico Sudoeste, focando-se mais nas espécies caribenhas e indo-pacíficas. Dessa forma, o estudo pôde expandir o olhar sobre o fenômeno do branqueamento e suas consequências para outros eixos geográficos, a partir do caso do coral endêmico e regionalmente dominante, M.Harttii.
O aquecimento global tem gerado sérias consequências aos recifes de corais ao redor do mundo, o que gera preocupação por parte dos seus estudiosos. De acordo com Giulia Braz, bióloga, mestranda do LARC e uma das cientistas envolvidas no estudo, os serviços ecossistêmicos oferecidos pelos recifes movimentam cerca de 9.8 trilhões de dólares e beneficiam 500 milhões de pessoas por ano. “Isso tudo, por conta da proteção do impacto das ondas na costa, turismo, pesca de subsistência, indústria de farmacologia e biotecnologia, aquarismo e a própria diversidade biológica”, reiterou Giulia. A espécie estudada pelo laboratório, M. Harttii, apresenta funções ecológicas que possibilitam a existência de uma fauna associada a ele, e está ameaçada de extinção. “Com a erosão de M. harttii, a consequência direta é a perda de habitat para muitas espécies, afetando diretamente a biodiversidade e riqueza de espécies locais”, comenta a bióloga.
Com base no estudo, que coletou amostras de coralito M. Harttii – de uma colônia saudável, uma levemente branqueada, uma severamente branqueada e uma morta – 90% das colônias sofreram branqueamento e mais de 60% tiveram perda de cobertura viva. Somado a isso, houve uma perda de 33,8% a 85,2% de área de colônias intactas e a erosão severa de todas as amostras.
No Brasil, os recifes se encontram desde a foz do Rio Amazonas até a região de Santa Catarina e apresentam uma série de particularidades que os tornam mais resistentes do que as espécies existentes no Caribe e no Indo-Pacífico. “Devido a grande malha fluvial do litoral brasileiro, nossos recifes estão adaptados a uma quantidade maior de sedimentos na água, bem como uma turbidez elevada, explica a bióloga. “Estes fatores que configuram desvantagens para recifes de corais em outras províncias, aqui acabam, de certa forma, protegendo os corais das ondas de calor, pois barram a penetração da luz na água”, continua . Fora isso, Giulia comenta que os recifes brasileiros conseguem existir em maiores profundidades, locais menos afetados pelo aquecimento global, fator protetivo nos casos de branqueamento. Esses fatores, infelizmente, não protegem totalmente as espécies brasileiras.
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