Onda de calor recorde atinge o Noroeste Pacífico

Costa oeste do Canadá e dos Estados Unidos testemunham temperaturas alarmantes em meio à onda de calor histórica

Imagem: Roberto Burgos S. / FreeImages

Temperaturas excepcionalmente altas acompanharam a chegada do verão no Hemisfério Norte este ano. Os termômetros marcaram recordes em cidades que vão desde a costa noroeste do continente americano à Europa e ao Oriente Médio. A vila de Lytton, no Canadá, registrou 47,9°C, valor 2,9° acima do recorde local de 1937. Já uma região da Lapônia, na Finlândia, registrou as maiores temperaturas em mais de um século. Especialmente no continente americano, estima-se que centenas de pessoas e um bilhão de animais marinhos morreram em decorrência das condições climáticas extremas.

De acordo com o professor do Departamento de Ciências Atmosféricas do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG/USP) Pedro Leite da Silva Dias, e a pesquisadora do Grupo de Estudos Climáticos do IAG Amanda Rehbein, a intensidade desse fenômeno não é comum e deve estar relacionada à atividade antrópica, mas a sua complexidade envolve uma série de fatores climáticos.

Teleconexões climáticas e o verão da região temperada

“Ondas de calor normalmente estão associadas ao estabelecimento de centros de alta pressão, que trazem consigo céu claro e, consequentemente, radiação solar atingindo a superfície em cheio”, explica Pedro Dias. O professor também pontua que esses centros de alta pressão geralmente duram menos de uma semana, mas é possível que eles fiquem sujeitos a bloqueios. Esses bloqueios fazem com que a onda de calor dure um maior período de tempo, como aconteceu nos Estados Unidos e no Canadá.

Mapa, em Fahrenheit, que aponta a prevalência da onda de calor sobre o Noroeste Pacífico. Imagem: Instituto de mudanças climáticas / universidade do Maine.

“Esses padrões estacionários [bloqueios atmosféricos] são um fenômeno já recorrente”, reforça Amanda Rehbein. A pesquisadora afirma também que eventos dessa intensidade costumavam ser observados a cada 15 anos, entretanto, hoje em dia, a incidência é quase anual. “Projeta-se que, no futuro, eles sejam ainda mais presentes”, completa. 

Amanda também pontua que, no caso da costa oeste estadunidense e canadense, o padrão geográfico também é de significativa relevância para a situação climática, pois as cadeias de montanhas locais favorecem elevadas temperaturas na região costeira em decorrência do padrão de ventos do hemisfério norte. 

Neste âmbito, o professor Pedro Dias apresenta um fator muito mais global para a análise da questão: a existência de uma teleconexão atmosférica iniciada pelas monções do sudeste asiático. O professor afirma que os elevados índices pluviométricos recentes na região criaram alterações na atmosfera que se deslocaram pelo mundo, chegando a lugares como o Noroeste Pacífico, local da costa oeste do Canadá e dos Estados Unidos. Esse fenômeno potencializou a presença do centro de alta pressão na região.

Neste ínterim, destacam-se as regiões de clima temperado, que no verão podem ser submetidas a 18 horas diárias de incidência solar. O fenômeno do “céu claro” dos centros de alta pressão promove um grande aumento na temperatura. Todos esses fatores unidos são responsáveis pelas ocorrências de altas temperaturas nessas regiões mais habituadas ao tempo frio. Desabituada a viver em um cenário de alta temperatura e calor intenso, a população local é atingida intensamente pelas condições adversas do momento.

Impactos das mudanças climáticas no meio ambiente

Nas últimas semanas, a província da Colúmbia Britânica no Canadá registrou aproximadamente 500 mortes repentinas acima do esperado para a região, a maioria de idosos, possivelmente associadas ao calor extremo. A província também tem enfrentado uma série de incêndios florestais, com dezenas de focos de incêndio espalhados pela região.

Nos Estados Unidos, uma seca histórica acompanha as elevadas temperaturas. Um terço do estado mais populoso do país, a Califórnia, está sob estado de emergência em decorrência da escassez hídrica. Além disso, os estados da costa oeste também enfrentam queimadas florestais em várias regiões. No sul do Oregon, mais de 500 km² foram queimados em um incêndio florestal.

Imagem do Vale da Morte, perto da fronteira da Califórnia com Nevada, um dos lugares mais quentes do planeta e que está sendo afetado pela onda de calor do Noroeste Pacífico. Imagem: Garret Voight / FreeImages.

 “Estamos chegando numa fase do aquecimento global em que seu impacto já é da ordem de grandeza das perturbações naturais”, aponta Pedro Dias. Para o professor, é provável que o evento climático do Noroeste Pacífico tenha sido potencializado pela atividade humana. “A tendência [do aquecimento global] é tornar os fenômenos climáticos mais frequentes e intensos”.

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