Centro de pesquisa da FEA-USP investiga a relação entre raça, gênero e desigualdades macroeconômicas

Made-USP busca democratizar acesso ao conhecimento econômico e à pesquisa como forma de criar ações capazes de reduzir as desigualdades

Biblioteca da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária. [Imagem: arquivo/FEA-USP]

O Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades (Made) existe desde 2015 como um grupo de orientação coletiva que busca promover uma discussão dos trabalhos de alunos da graduação e mestrado em torno da redução de desigualdades econômicas. Sediado na Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP, o projeto é organizado pelos professores Laura Carvalho, Gilberto Tadeu Lima e Fernando Rugitsky.

O fio que orienta as principais linhas de pesquisa do Núcleo é a análise de como fatores macroeconômicos impactam a população de formas variadas e geralmente atreladas à renda, gênero e raça. Para Rodrigo Toneto, pesquisador do Made e doutorando na Queen Mary University of London, a inflação é um bom exemplo de indicador macroeconômico que afeta mais fortemente a população pobre, pois as maiores altas são nos preços dos alimentos, que comprometem um percentual maior da renda de pessoas mais empobrecidas em relação às das classes mais abastadas.

O grupo trabalha com alguns princípios que guiam o desenvolvimento de pesquisas, alguns exemplos são: a desigualdade como um processo multifacetado, que atravessa gênero e raça, a tributação progressiva e justiça social como pilares do crescimento econômico, a transição ecológica, o investimento verde e a justiça climática como possibilitadores de um desenvolvimento sustentável, e a visão dos serviços públicos como estruturadores dos pilares anteriores, com capacidade de acelerar a redução de desigualdades.

“A inflação se insere nessa perspectiva porque, para nós, a abordagem em relação a ela é não olhar o índice em absoluto. A inflação que a gente vê hoje é desigualmente distribuída e aí entra a diferença do padrão de consumo dos ricos e dos pobres. É uma inflação principalmente de alimentos, que pesa mais no consumo dos mais pobres”, explica o pesquisador. “Então, relativamente, a inflação que a gente está vivendo distribui renda dos mais pobres para os mais ricos”, diz. “Ou seja, os mais pobres estão perdendo poder de compra e os mais ricos estão sendo menos afetados por essa inflação, que já é a maior em alimentos desde o início do Plano Real.”

O grupo, que também tem como preocupação tornar o conhecimento econômico mais acessível e democratizar seu acesso, vem buscando aumentar seu fluxo de publicações em redes sociais como Instagram e Twitter, com o objetivo de fortalecer a comunicação.

“É importante reiterar que a ciência hoje é muito mais coletiva. A gente não vai ter uma única pessoa que vai apresentar a resposta para os problemas do Brasil nos próximos 50 anos e o Made reflete um pouco essa consciência” comenta. “Precisamos juntar gente e dialogar com outras áreas do conhecimento para produzir respostas para o dilema brasileiro, que é como distribuir renda e, ao mesmo tempo, gerar crescimento econômico.”

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