Pesquisadora mapeia lugares importantes para o Movimento Social das Pessoas com Deficiência

Site apresenta os “Lugares de Memória” da luta por acessibilidade em São Paulo entre 1978 e 1981

Colagem de locais importantes para o Movimento Social das Pessoas com Deficiência. – Foto: Carla Grião/Reprodução

O período entre 1978 e 1981 foi marcado pelo crescimento de grupos ativistas organizados por pessoas com deficiência. Eles lutavam pelos direitos da comunidade e reivindicavam por mais acessibilidade em São Paulo. As manifestações ocorreram em pontos importantes na capital paulista. O Colégio Anchietanum, a Praça da Sé e a Câmara Municipal de São Paulo são alguns deles.

A responsável pelo mapeamento dos locais é Carla Grião, museóloga pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) e mestre pelo Instituto de Estudos Brasileiros da USP (IEB). A partir de entrevistas com militantes da causa e análise de documentos, ela criou um site com o intuito de divulgar os “Lugares de Memória” do Movimento Social das Pessoas com Deficiência em São Paulo. A expressão se refere a espaços de importantes acontecimentos e transformações sociais.

O Movimento Social das Pessoas com Deficiência é formado por instituições ligadas à luta pela acessibilidade, principalmente do final de 1979. Para identificar onde ocorreram as mobilizações desses ativistas, Carla analisou cerca de 500 matérias da Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo produzidas na época.

Foram identificados quase 40 lugares de memória da luta de pessoas com deficiência entre 1978 e 1981. Alguns dos locais encontrados, no entanto, não existem mais. Esses espaços, que ainda fazem parte da lista, são compreendidos pela pesquisadora como “memória do lugar”.

Mapa com a localização dos lugares de memória do Movimento Social das Pessoas com Deficiência. – Foto: Carla Grião/Reprodução

Os espaços se concentram no centro de São Paulo, entre a Vila Mariana e o Sumaré. Carla acredita que isso aconteceu porque a região tinha muitos hospitais, os quais aproximavam pessoas com deficiência à área.

O distanciamento foi um fator decisivo para definir o local das manifestações, pois era difícil conseguir transportes adaptados. “A maioria dos lugares de memória era próximo às moradias dos militantes”, conta a pesquisadora.

Também era mais viável promover reuniões em espaços planos e acessíveis. “[Os encontros] se concentraram muito em locais religiosos e de educação, por conta da estrutura física”, afirma Carla. “Inclusive, muitas reuniões eram feitas nas moradias das pessoas com deficiência, porque já tinha uma certa acessibilidade.”

FMU – Campus Santo Amaro sediou diversas reuniões de entidades do movimento, por isso é considerado um lugar de memória. – Foto: Carla Grião/Reprodução

De acordo com a museóloga, mapear pontos que tiveram interações sociais relevantes é uma forma de relembrar e manter os acontecimentos vivos: “Os lugares têm uma força simbólica e fazem um reforço identitário para um determinado grupo social”. Também possibilita que ativistas e grupos minorizados tenham seu protagonismo social e o registro de sua história garantido. Com isso, o movimento consegue ganhar adeptos, já que pessoas podem se identificar com as mobilizações documentadas.

Antes do início das ações dos ativistas, em 1978, a acessibilidade era pouco discutida em São Paulo. A partir de 1979, locais públicos e moradias se tornaram espaços de luta por mudança. “Seria muito interessante se pudéssemos pensar numa musealização”, sugere Carla. “Como a pesquisa é focada no período de 78 a 81, tenho certeza que muitas pessoas não conhecem esses lugares”.

Com o avanço do movimento em vários países, 1981 é definido como o Ano Internacional da Pessoa com Deficiência (AIPD) pela Organização das Nações Unidas (ONU). Após essa época, considerada a “fase heróica” do movimento pelo livro “30 anos do AIPD”, mudanças significativas foram alcançadas pelas entidades.

Os “Lugares de Memória” identificados na pesquisa são classificados em cinco tipos: os ligados ao cotidiano; os ocupados por instituições mais duráveis voltadas para cuidados e educação; os relacionados ao capital cultural que incorporou a acessibilidade; os eventuais e ligados aos eventos. Confira abaixo dois deles. Para conhecer mais, acesse: http://lugaresdememoriamspcd.atwebpages.com/.

Centro Escoteiro Jaraguá

Exemplo de lugar ligado aos eventos: locais mobilizados a fim de tornar o movimento “memorável”. Nesse espaço, ocorreu o Acampamento Inclusivo, organizado pelo Núcleo de Integração de Deficientes (NID). “Eram lugares que também foram palcos da vida mais social do movimento”, explica a pesquisadora.

Colégio Anchietanum

É considerado um lugar eventual, ou seja, pertence à categoria de espaços onde aconteciam encontros. O local foi utilizado por muitas entidades graças à proximidade da Fraternidade Cristã de Doentes e Deficientes (FCD) com a Igreja Católica. No colégio, ocorreram reuniões com políticos que queriam criar medidas públicas para ajudar a comunidade. Segundo Carla, esses encontros eram como uma “arena de debate”.

4 Comentário

  1. Muito boa matéria. A cidade precisa mesmo de lugares com acessibilidade. Afinal, os deficientes tem os mesmos direitos de passeios culturais que vos demais cidadãos.
    Obrigada pelas sugestões!

  2. Excelente matéria, tanto por publicizar questões relacionadas às pessoas com deficiência quanto por apresentar aos leitores os assuntos que foram brilhantemente discutidos na dissertação de mestrado da autora. A todos os que se interessarem pelo assunto, recomendo fortemente a leitura do texto integral, disponível no banco de teses da USP com o título: Lugares de memória do movimento social das pessoas com deficiência na cidade de São Paulo de 1978 a 1981

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